quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Produtos juazeirenses do passado: quem se lembra?

(Estes rótulos históricos foram resgatados por Renato Casimiro). 
Quem se lembra dos produtos acima? Esses e muitos outros eram fabricados pelo Sr. Antônio Ribeiro de Melo (foto ao lado), um dos mais prósperos industriários do Juazeiro de ontem. De sua fábrica saíam para abastecer o comércio da região e Estados vizinhos cajuína, guaraná, vinagre, quinado, aguardente, vinho, cerveja preta entre outros produtos tão apreciados na época, ou seja a partir de 1944, quando o Sr. Antônio Ribeiro instalou sua Indústria de Bebidas São Caetano, localizada na Rua São Paulo, 613. Ele nasceu em São Caetano, Pernambuco, no dia 5 de setembro de 1910. Com dez anos de idade, a convite do irmão mais velho, Luciano Teófilo (outro grande empresário)  veio para Juazeiro do Norte. Trabalhou inicialmente, no ramo de comércio de peles. Depois foi funcionário da Farmácia dos Pobres, de José Geraldo da Cruz.  A partir de 1944 passou a trabalhar por conta própria, organizando e movimentando uma indústria de bebidas. Foi vereador (1955-1958), primeiro vice-prefeito de Juazeiro do Norte (1959-1963, administração Dr. Antônio Conserva Feitosa), fundador da Sociedade Padre Cícero e cofundador da União Beneficente Juazeirense. Fundou também o Ginásio Adauto Bezerra e a Escola Técnica de Comércio Dr. Diniz, estabelecimentos de ensino que eram mantidos pela Sociedade Padre Cícero.  Faleceu em Juazeiro, no dia 24 de outubro de 1974. Era casado com a professora Lindalva Machado Ribeiro, com quem teve dois filhos: Antônio Cid e Maria Nazareth (médica). Tem uma praça em Juazeiro com seu nome. (Dados extraídos do livro Dados Biográficos dos Homenageados em Logradouros Públicos de Juazeiro do Norte, de Raimundo Araújo e Mário Bem Filho).


quinta-feira, 18 de outubro de 2012

O dia em que Dr. Floro proibiu o uso de ceroula nas ruas de Juazeiro

Esse Dr. Floro Bartolomeu da Costa era mesmo um cara durão! Tirano! Mas é bom reconhecer, ele agia assim em alguns casos porque queria ver Juazeiro em parceria com o progresso e a modernidade. Leiam o caso abaixo transcrito do livro Eu e o índio e a floresta, de Manoel Caboclo, e tirem suas conclusões.


“Era o ano de 1923, tenho a recordação dos meus sete anos de idade e também dos costumes do povo de Juazeiro daquela época. Qualquer menino crescia até os 12 ou 15 anos vestindo uma camisola que batia nos joelhos. Não se usavam cuecas, pois era objeto desconhecido. Os homens da agricultura vestiam um "ceroulão" com umas arriatas por trás e na boca da ceroula um cadarço para amarrar no tornozelo. No dia de feira, vinham todos à rua para fazer compras, todos de ceroula, somente ao chegarem às proximidades da cidade é que entravam para o mato, vestindo uma calça frouxa por cima da ceroula e uma camisa de tear, que cobria os joelhos. Recentemente chegado do Rio de Janeiro, o Dr. Floro Bartolomeu tomou a iniciativa de civilizar aquela gente, passando uma ordem para que ninguém entrasse na cidade vestido de ceroula e nem com a camisa por fora da calça. Ah! isto foi uma grande complicação para os juazeirenses que se viam obrigados a obedecer às ordens. Mas nem sempre todos cumpriam o dever. Aqueles que violavam a lei eram pegos pela polícia em plena feira e cortada a ponta da camisa que sobrava. Conheci o Cel. Fernando, um rico e respeitável senhor que gostava de acompanhar a moda, andando muito bem trajado. Eu ficava admirado como um homem trajava tão bem. Vestia ele um terno de casimira, calça estreita com suspensórios, paletó que lhe batia às curvas das pernas, por trás, usando um fraque, colete e camisa de mangas supostas, um chapéu de palhinha na cabeça, um par de botinas, sem meias, um par de botas que vinha até quase os joelhos e uma bengala”. (Texto de Manoel Caboclo, extraído do seu livro Eu, o índio e a floresta).

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Surpresa! Sedição de Juazeiro de 1914 pode ter sido arquitetada pelo prefeito de Crato


Segundo o historiador americano Ralph Della Cava, em seu livro Milagre em Joaseiro, reportando-se à Sedição de Juazeiro “Contrariamente à maioria das interpretações tanto contemporâneas quanto atuais, parece certo que o cel. Antônio Luís (foto ao lado)  foi o arquiteto principal do plano no Cariri; Floro foi o executor-chefe e Padre Cícero, seu cúmplice atônito e indeciso. É hoje evidente que não poderia ter sido de outra forma. Antônio Luís, primo-irmão do ex-governador Accioly, chefe deposto do Crato, antigo deputado estadual e outro "Grande Eleitor" de todo o Vale do Cariri, era quem mais tinha a lucrar com a "revolução". Além disso, tratava-se de um político experiente, enquanto que Floro não conhecia uma única personalidade política do Ceará e jamais estivera em Fortaleza! Somente depois de ter ido ao Rio de Janeiro, em agosto de 1913, travou relações com os Accioly, com o senador Cavalcante e com o próprio Pinheiro Machado!
Quanto ao Padre Cícero, era ele prisioneiro dos boatos que corriam sobre os incontáveis atos de hostilidade de Franco Rabelo, objeto de adulação por parte dos poderosos e egoístas exilados do Rio de Janeiro e o penhor confiante de Floro e Antônio Luís. Tornaram-se estes, juntamente com seus subordinados, os principais porta-vozes do solitário clérigo no referente à crise política de 1913. Até que ponto era sincera a confiança implícita que o Patriarca depositava em Floro e em Antônio Luís só se pode julgar pelos fatos posteriores, especialmente pelo seu último testamento. Nesse documento, o clérigo designou Floro e Antônio Luís testamenteiros de seu legado, o que representava uma indiscutível prova de confiança numa sociedade em que somente os amigos podiam garantir o cumprimento da lei. Admite-se que Antônio Luís e Floro não foram os únicos conspiradores. Havia, ainda, o imprevisível João Brígido, redator-chefe do jornal Unitário, a primeira pessoa a partir para o Rio de Janeiro em 1913 com o fim de conspirar contra o governo de Franco Rabelo.” Adianta ainda Della Cava:  “O alter ego (Dr. Floro) e o "oligarca mirim" (Cel. Antônio Luís) tornaram-se grandes  amigos e aliados políticos. Uma prova dessa camaradagem foi a importante atuação de Antônio Luís garantindo a nomeação de Floro para deputado estadual na chapa derrotada do PRC-C marreta, nas eleições de novembro de 1912. Desse momento em diante, as relações entre Floro e Antônio Luís ficaram mais íntimas; Floro visitava, com freqüência, a casa de Antônio Luís no Crato. Um encarnava a ambição e a audácia, o outro a esperteza política e o gosto pelo poder; juntos, galvanizaram o desespero dos chefes da velha guarda do Vale, levando-os a se compro-meterem com a revolta dirigida contra o governo de Franco Rabelo.”

segunda-feira, 9 de julho de 2012

A morte do Boi mansinho - Por Dr. Floro Bartolomeu da Costa


Certo amigo (Delmiro Gouveia) ofereceu ao Padre Cícero um bonito garrote, mestiço de zebu, por ser raça ainda não conhecida naquele meio. Na impossibilidade de criá-lo dentro da cidade, confiou o tratamento do animal a um negro, de nome Zé Lourenço, residente no sítio "Baixa Dantas", do município do Crato.
Esse preto, quando ali chegou, já era "Penitente em sua terra", isto é, fazia parte de uma associação oficiosa, fundada pelos antigos missionários e ainda hoje tolerada por um ou outro padre.
Depois das perseguições religiosas ao Padre Cícero, começaram a fazer circular que Zé Lourenço, não tendo mais vida de penitente, abusava da crendice do povo, apresentando o "touro como autor de milagres".
Então se dizia que a urina do animal por ele era distribuída como eficaz medicamento para todas as moléstias, que dos seus cascos eram extraídos fragmentos para, em pequenos saquinhos serem pendurados ao pescoço, como relíquias, à moda do Santo Lenho; que todos se ajoelhavam em adoração diante do touro e lhe davam a beber mingaus e papas; enfim, tudo que uma alma perversa possa conceber.
Quando se procurava apurar a verdade, ninguém sabia informar, a começar pelos proprietários do sítio onde Zé Lourenço residia e trabalhava como rendeiro.
Os padres, não sei sob que fundamento, repetiam essas banalidades. O Padre Cícero, não obstante estar convencido da mentira, por diversas vezes tentou vender o animal; mas, não só Zé Lourenço, como também cavalheiros respeitáveis o impediam, fazendo sentir que além de ser inverdade o que espalhavam, o animal era um bom reprodutor e estava melhorando a raça do gado ali. Por isso mesmo todos os grandes e pequenos, o tratavam com carinho, mesmo porque era muito manso, donde veio a ser conhecido por "Mansinho".
Aconteceu que em um dos meses do ano atrasado, na ladeira do Horto, se deu um conflito entre um doido e alguns indivíduos  conhecidos por "Penitentes" e o inspetor policial do quarteirão.
Havendo ferimentos, foram presos os implicados por crime de natureza leve.
De acordo com o Padre Cícero, procurei, por meios brandos, conseguir acabar com a prática dos atos dos "Penitentes".
Os próprios "Penitentes" concordaram com a minha resolução entregando-me, para serem queimadas, as vestes apropriadas que ainda possuíam e as respectivas cruzes, as quais mandei queimar no cemitério.
Eles me informaram que às vezes, praticavam aquele ritual pelo hábito de suas terras, com o consentimento dos vigários e na intenção de sufragarem as almas do Purgatório, o que realmente não me era estranho.
Alguns amigos aconselharam-me nessa ocasião que eu desmascarasse os que acusavam Zé Lourenço de prática de feitiçaria. Respondi-lhes nada poder fazer, em virtude de ser ele morador no município do Crato.
Não sei quem informou o mesmo Zé Lourenço de que eu ia mandar prendê-lo.     O negro, supondo exata a notícia, no terceiro dia apareceu em minha residência. Foi quando o conheci pessoalmente.
Mandei prendê-lo, e, apesar das suas declarações, dele obtive a promessa de ir morar no Juazeiro, para evitar os boatos.
Ao mesmo tempo fiz vir o touro, e, de acordo com o padre, vendi-o para o corte, sob a condição de ser abatido pelo comprador em frente à cadeia.
Abatido o touro em frente à cadeia, em plena rua, às duas horas da tarde, perante centenas de pessoas, de acordo com o Padre Cícero, foi a carne conduzida para o açougue público, onde também foi vendida toda ela, não chegando para todos que quiseram comprá-la, visto ser da melhor qualidade.
Ao chegar a notícia, no Crato, de que Zé Lourenço não mais voltaria ao sitio Baixa Dantas, indo fixar residência no Juazeiro, recebi diversos telegramas, cartas e visitas de homens respeitáveis daquela cidade vizinha, empenhando-se para que eu não retirasse Zé Lourenço do seu sítio, tal a falta que ele fazia aos proprietários, pelo auxílio que lhes prestava nos trabalhos de agricultura, e em outros préstimos.
O pedido, porém, que calou mais no meu espírito foi o do capitão João de Brito, cunhado do nosso colega Deputado Hermenegildo Firmeza, o dono da terra da qual ele, Zé Lourenço, era rendeiro.
Consenti na volta do negro ao seu sitio, e assim terminou a história "das mil e uma noites" do touro "Mansinho".
Interrogando esses cavalheiros que se empenharam pela volta do negro, pelo motivo de não desmentirem os que o caluniavam, me responderam todos sempre assim terem procedido; mas que os boatos eram para desmoralizar o Padre Cícero e, dessa maneira, não podiam evitá-los.
Zé Lourenço, que não freqüentava o Juazeiro, depois disso começou a freqüentá-lo aos domingos para ali fazer sua feira, e, durante o tempo que eu lá estive, nesses mesmos dias, almoçava comigo, em minha casa, onde se hospedava.
(Extraído do seu livro Juazeiro do Padre Cícero –Depoimento para a história).

sábado, 30 de junho de 2012

O primeiro carnaval de Juazeiro



O primeiro carnaval realizado em Juazeiro aconteceu em fevereiro de 1925, por iniciativa de Dr. Floro Bartolomeu da Costa, que naquela época era Deputado Federal. Ele veio do Rio de Janeiro de onde trouxe todas as fantasias necessárias para a formação dos blocos que deveriam desfilar pelas ruas da cidade. Três blocos foram formados: Bloco das Bananas: liderado por Albertina Brasileiro; Bloco das Mexicanas: liderado por Ivone, Bellkiss e Ayta Suliano de Albuquerque; Bloco dos Cavadores: liderado por Walmique Gomes, Vicente e Dão Leite, Vicente Roque de Menezes e José Matias.   Àquela época existiam em Juazeiro apenas apenas dez automóveis, dois dos quais são mostrados na foto. Quem participou disse que foi  um carnaval bastante animado. E não ficou só no desfile, pois à noite Dr. Floro ainda patrocinou um alegre baile de máscaras para as famílias caririenses, em sua residência. As mulheres compareceram vestidas de colombinas e Dr. Floro, de pierrô. Segundo o memorialista Senhorzinho Ribeiro, em seu livro Juazeiro em corpo e alma, o carnaval daqui foi também o primeiro a ser realizado numa cidade do interior cearense, proeza que Juazeiro fica devendo ao seu ilustre representante político da época. Depois e durante muito tempo, o carnaval desta cidade teve em Antônio Fernandes Coimbra, popularmente conhecido como Mascote, o seu mais entusiasmado folião. O Treze Atlético Juazeirense foi palco durante muitos anos de  animados carnavais.

terça-feira, 15 de maio de 2012

O CÍRCULO DA MÃE DE DEUS (Ou Trincheiras e Valados de Juazeiro) (FERNANDO MAIA DA NÓBREGA)

            A mais significativa forma de defesa usada pela cidade de Juazeiro do Norte, durante a sua sedição em 1914, foi a edificação dos valados e trincheiras, chamados pelos romeiros de “Círculo da Mãe de Deus.”
            A brilhante ideia de cercar Juazeiro com um enorme valado partiu de Antônio Vilanova, ex-combatente  da Guerra de Canudos, residente em Assaré (01) e que fora chamado pelo doutor Floro Bartolomeu  para ajudar na revolta de Juazeiro. Milhares de pessoas, mais precisamente cinqüenta mil, segundo Xavier de Oliveira(02),   foram convocadas  para fazer essas escavações, circundando Juazeiro, em apenas seis dias! A terra retirada dos valados foi colocada a três metros, para o lado dentro da cidade, constituindo as trincheiras.
            Hoje, quase não restam vestígios do “Círculo da Mãe de Deus” e há divergências  mesmo entre  os escritores quanto a extensão, largura e sua localização. O mais antigo deles a expor o assunto foi  Xavier de Oliveira que desta forma se expressou:   
“O valado, a trincheira inexpugnável do Juazeiro, tem de profundidade dez, e de largura doze palmos. Toda terra foi carregada para dentro, a alguns metros de distância, formando uma barreira de seis palmos de altura(...)”
São três léguas de vallados”(03)(sic)
           Segundo esse eminente historiador, tendo um palmo o tamanho de 22 centímetros, eis as especificações:
1-         Profundidade: 2.20 metros
2-         Largura:          2.64 metros
3-         Extensão:        18 quilômetros
4-         Localização:    Informa, tão somente, que circundava o Juazeiro.
           
           Já Manuel Diniz, em 1936, especifica:
“(..) em quanto milhares de pessoas cavavam, dia e noite, o grande valado para circundar a cidade, exceto do salgadinho(04) (...) ocupavam posições nas trincheiras que bordavam o valado mais ou menos na extensão de dez quilômetros e formando um semi-círculo do Nascente, Poente e sul desta cidade(05)
             Não  especificando as medidas, Diniz ressalta, apenas, a extensão de dez quilômetros,  e a não existência de valados  para os lados do rio Salgadinho.
             A respeitável escritora Amália Xavier, irmã de Xavier de Oliveira, nos dá a seguinte  informação: “(...) em 6 dias, 9 quilômetros de valados, em extensão, com 8 metros de largura por cinco de profundidade estavam terminados. O monte de areia jogado para  o lado de dentro, tinha de dois a três metros de altura, bombeados, numa distância de 3 mts de um para o outro.(...)”(06)
            Em assim sendo, vejamos a configuração dos valados aos olhos de Amália Xavier:
1-         Profundidade:  5 metros
2-         Largura:           8 metros
3-         Extensão:        9 quilômetros
4-         Localização :    especifica somente a trincheira das malvas.
            Otacílio Anselmo afirma:
“9...0 a verdade, porém, é que a fortificação, em cujo trabalho se empenharam a fundo, dia e noite, milhares de homens e mulheres de todas as idades, utilizando até latas e panelas de barro na remoção da terra, foi praticamente concluído em 5 dias”(07)..
                Mais adiante o autor sobredito informa que não havia valados e trincheiras do lado que corre o rio salgadinho. (08)
                A escritora Fátima Menezes, ao contrário dos autores supracitados, baseando-se no “ Diário de Fausto Guimarães”  sustenta a tese da existência de valados no salgadinhos e os nomeia:
“ 20 de dezembro (Sábado) – Segundo combate. Desta vez na trincheira de Santo Antônio que tem duração de quinze horas. Os rabelistas atacam  em três partes ao mesmo tempo; em volta dos valados: do “Salgadinho”,”Santo Antônio”  e “Quadro Pio X”(09)
            Concluí-se, por conseguinte, não haver uniformidade dos informes sobres os valados e trincheiras edificados em Juazeiro em 1913, no tocante a profundidade, largura,extensão e localização. Sabe-se, entretanto, que foram erguidos nos arredores da cidade os seguinte valados: Malvas, Santo Antônio e Quadra Pio X. A existência no Salgadinho é negada por escritores mais próximos do episódio: M. Diniz e Xavier de Oliveira. Somente Fátima Menezes o cita baseando-se num mapa, sem muita precisão, constante no “Diário de Fausto Guimarães”.
             Quanto às especificações físicas, se todos essas escavações obedeceram a uma medida  uniforme, vendo-se as fotos existentes dos valados e trincheiras, dá-se para se ter uma idéia que a profundidade e  largura mais se assemelham às descritas por Xavier de Oliveira: 2.20 por 2.64 metros.
             Em referência  a extensão territorial a tese mais aceitável é que seja de 09 a 10 quilômetros  conforme depoimentos de Xavier de Oliveira e Amália Xavier de Oliveira, haja vista sua abrangência ir das Malvas ao Horto, percurso este que se aproxima mais da realidade.     No tocante à localização,  Fátima Menezes nomeia quatro   valados e trincheiras: Malvas, Santo Antônio, Quadra Pio X e Salgadinho. Aceitamos também o ponto de vista da maioria dos autores sobre a inexistência de valados  para os lados do Salgadinho, como afirma Fátima Menezes existindo, tão somente, por aqueles lados, uma muralha  na Serra do Horto, mais precisamente no Santo Sepulcro, da qual ainda restam vestígos.
N O T A S
01-       Amália Xavier de Oliveira – O Padre Cícero que  eu conheci (verdadeira história história de juazeiro) pag. 151
02-       Xavier de Oliveira –Beatos e Cangaceiros pg.56-
03-       Idem.ibidem
04-       Manuel Diniz – Mistérios do Joazeiro pg.129
05-       Idem pg 130
06-       Amália Xavier, o.c. pag. 152
07-       Otacilio Anselmo –Mito e Realidade pag.400
08-       Idem pag 407
09-       Fátima Menezes- Homens e Fatos na História de Juazeiro, pag 79
BIBLIOGRAFIA
Anselmo,Otacílio –Padre Cícero –Mito e Realidade –Ed. Civilização Brasileira Rio de Janeiro 1968
Cava,Ralph Della – Milagre em Joaseiro.Paz e Terra.Rio de Janeiro 1976
Diniz,Manuel – Misterios do Joaseiro – Tipografia do Joaseiro. Juazeiro 1935
Filho, M.B.Lourenço – Juázeiro do Padre Cícero -3ª Edição – Companhia Melhoramento de são Paulo
Montenegro,Abelardo – Fanáticos e Cangaceiros –Ed.Henriqueta Galeno.fortaleza 1973
Menezes,Fátima – Homens e Fatos na história de Juazeiro.Ed. Universitária da UFPE.Recife 1989
Oliveira, Amália Xavier – O Padre Cícero que conheci(verdadeira história de Juazeiro).Rio de janeiro 1969
Oliveira, Xavier de – Beatos e Cangaceiros  Rio de janeiro 1920



terça-feira, 3 de abril de 2012

Jornal Nacional da Globo é apresentado ao vivo de Juazeiro









A noite de terça-feira, dia 29 de agosto de 2006, ficará para sempre gravada na memória de Juazeiro do Norte graças à realização de um evento inédito: nesta data o maior telejornal da televisão brasileira, o Jornal Nacional da TV Globo, foi apresentado diretamente desta cidade, através de um estúdio instalado na Serra do Horto, ao lado do Monumento do Padre Cícero. O telejornal foi ancorado simultaneamente do estúdio central no Rio de Janeiro, com Fátima Bernardes, e o estúdio de Juazeiro, com Pedro Bial e William Bonner. Uma multidão de mais de três mil pessoas se deslocou até à Serra do Horto proporcionando um belíssimo espetáculo que impressionou a toda a Caravana JN que veio a Juazeiro. Para deixar registrado mostramos acima uma série de fotografias do evento. A primeira foto é de Demontier Tenório, a segunda e a terceira são de João Carlos, clicadas diretamente do local. As demais foram clicadas pela Redação de Juazeiro on-line diretamente da tela do televisor. Na seqüência: William Bonner em três momentos – Pedro Bial com o chapéu que é o símbolo do romeiro e  a vinheta de encerramento da edição história do JN transmitido ao vivo de Juazeiro do Norte, uma das poucas cidades do Brasil a ter este privilégio

sábado, 24 de março de 2012

Padre Cícero e a Ourivesaria - Por Zeca Marques da Silva

Até 1900, no povoado de Juazeiro, não existiam ainda ourivesarias. O centro industrial e comercial do ouro era localizado na vizinha cidade do Crato. Havia tanta ourivesaria no Crato, que a Rua Bárbara de Alencar era denominada de Rua dos Ourives, pela grande quantidade de ourivesarias lá instaladas.
Em Barbalha, havia apenas uma ourivesaria, de propriedade do senhor Carlos Miguel Ângelo, conhecido por "Padre Ourives". Nessa ourivesaria trabalhava como operário Raimundo Nunes Branco, conhecido por "Doca". Doca era rapaz, e morava com sua irmã, Cassimira, conhecida por "Santa".
Santa era amiga do Padre Cícero e tinha entrada franca na casa dele. Certo dia, Santa foi visitar o Padre Cícero, e nessa visita, disse-lhe o Padre Cícero: "Diga a seu irmão Raimundo que venha instalar uma ourivesaria aqui no Juazeiro".
De volta a Barbalha, Dona Santa deu o recado do Padre Cícero a Doca, ao que ele lhe respondeu: "Não vou. O Juazeiro não tem nada para me oferecer".
Meses depois, Dona Santa foi mais uma vez à casa do Padre Cícero. Nessa ocasião, o Padre Cícero lhe perguntou: "Você deu o meu recado a seu irmão Raimundo?" Dona Santa respondeu: "Dei, mas o que ele respondeu é que este povoado não tem o que lhe oferecer". "Pois então, disse o Padre Cícero, diga a ele que, se não vier, eu vou lhe buscar".
Quando Doca recebeu de sua irmã a intimação, ficou impressionado. Prestou conta com o patrão e foi a Juazeiro. Chegando à casa do Padre Cícero, disse: "Pronto, aqui estou Padre Cícero, onde é que vou instalar minha ourivesaria?" Nessa ocasião o Padre Cícero deu a Doca a chave de uma casa localizada na Rua do Cruzeiro com a Rua São José, nos fundos onde é hoje a casa de Dona Alacoque Bezerra, e lhe disse: "Faça muitas alianças e brincos de ouro".
As informações acima foram prestadas pelo  nosso amigo José Anchieta, ourives residente na Rua Mons. Joviniano Barreto, nº 97, em frente à Escola de Primeiro Grau Padre Cícero.
Doca, o primeiro ourives do Juazeiro, apoiado com a proteção do Padre Cícero, ficou rico e conhecido por "Doca Ourives". Com a independência política de Juazeiro, a cidade acelerou o seu desenvolvimento, o comércio de ouro cresceu e as ourivesarias do Crato diminuíram a ponto de ficar apenas uma, a do senhor Theopisto Abath que ainda continua sob a direção de um de seus filhos.
Doca Ourives, rapaz bem parecido, mulherengo, só pensava em dinheiro. Nunca se lembrou de ir agradecer ao Padre Cícero o apoio que dele recebeu.
Anos depois o Padre Cícero perguntou a Dona Santa: "Como vai Raimundo com a ourivesaria"? "Muito bem, respondeu dona Santa, só tem um problema: é vaidoso e gasta de mais com farra".
— "Pois diga a ele, disse o Padre Cícero, que faça economia para que na velhice ele não sofra as conseqüências".
Santa deu o recado a Doca, e ele respondeu: "Bobagem, Santa, o que possuo eu morro e não se acaba".
O campo comercial abriu-se para outras ourivesarias. Doca ourives começou a fracassar. Mudou-se para uma casa na Rua Boa Vista, nº 114. Lá ele findou seus últimos dias de vida com uma oficina de conserto, morrendo em 1941, velho e pobre.
Os ourives que mais se destacaram nessa época até 1950, foram:  José Vicente de Lima, Enoque Vieira de Almeida, Paulo Maia, Antônio Vieira de Almeida, José Ourives, José Inácio da Costa, Luís Coimbra, José de Melo da Silva, Sutério Inácio da Costa, Antônio Flor e Luiz Gonçalves Pereira.
Depois dessa época surgiram outros ourives que assumiram a liderança da indústria de ouro que até hoje perdura e lidera o comércio de ouro no Juazeiro.
Em 1979, os irmãos Neri (Severino, Antônio, Aluísio e José), montaram a primeira fábrica de jóias em Juazeiro, a CIMEL-Comércio e Indústria Metalúrgica Limitada. No decorrer dos anos essa fábrica deixou de fabricar jóias e passou a fabricar sacos plásticos, continuando com a mesma sigla.
Para compensar e mostrar que Juazeiro não pode parar, surgiram três fábricas de jóias dos senhores: Josimar, Dr. José Wildon de Morais e José Machado Junior.
Em 1990, foi fundada em Juazeiro a Associação dos Fabricantes de Jóias. Essa Associação manteve por algum tempo  uma escola, tendo como finalidade aperfeiçoar operários na fabricação de jóias e lançar no comércio os mais variados modelos de jóias, libertando-nos assim das jóias fabricadas no sul do país. Atualmente  Juazeiro conta com algumas  fábricas de jóias, quase uma centena de ourivesarias, dezenas de casas de relojoarias  e muitas dezenas de boxes de vendas de ouro e jóias encascadas de ouro.
(Extraído do livro Milagres e previsões do Padre Cícero. José  (Zeca) Marques da Silva)

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

História da independência de Juazeiro - Por Daniel Walker


No Brasil, o processo de emancipação política dos povoados e sua transformação em município é basicamente igual. Geralmente é assim: Em dado momento, a comunidade percebe que o povoado cresceu e é chegada a hora de deixar de pagar impostos ao município-sede, pois o retorno social dos recursos remetidos nem sempre corresponde aos anseios da população. Então, alguém, não necessariamente um líder, se sente no direito de representar a coletividade e convoca a população para desencadear o movimento de independência.
Com o povoado de Juazeiro foi desse mesmo jeito. Porém, a forma de desenvolvimento do processo foi diferente, daí porque a história da independência de Juazeiro é singular.
Em 1907 o povoado estava em franco desenvolvimento e pagando pesados impostos ao Crato. Um cidadão filho da terra, rico fazendeiro, divulgou um boletim no qual convocava a população para uma reunião cívica em que a emancipação do povoado era o principal tema da pauta.
A reunião foi um fiasco! Pouca gente compareceu. Alguém aventou a hipótese de que a população, embora desejosa de ver o povoado livre, estava dividida devido a divergências ideológicas e, por isso, vez por outra se desentendia. Na verdade, a população juazeirense, ontem como hoje, é formada por dois tipos de habitantes: os filhos da terra, chamados nativos, e os adventícios, chamados genericamente de romeiros, pois para aqui vieram atraídos pelas pregações de um padre, líder carismático autêntico, e pela crença num fato que todos acreditam como sendo milagre. Este fato, basicamente, consistiu no sangramento da hóstia na boca de uma beata quando a mesma comungava, além de outros fenômenos igualmente estranhos.
O filho da terra e rico fazendeiro referido acima conseguiu a adesão de dois destemidos adventícios para engrossar as fileiras do movimento: um padre cratense fugido de sua cidade por questões políticas com o prefeito e um médico baiano com habilidade em advocacia, embora não fosse advogado formado, que para aqui veio se oferecer para resolver pendências jurídicas referentes a umas minas de cobre do padre que vivia no lugar, mas estava suspenso das ordens eclesiásticas, o líder carismático já citado.  Por coincidência, os dois forasteiros também eram jornalistas.
Assim, melhor preparado, o grupo resolveu fundar um jornal, cujo objetivo seria servir de ponta-de-lança do movimento de independência do povoado.
Mas, apesar de todo o empenho o empreendimento não crescia da forma desejada. Algumas razões impediam-no: o fazendeiro rico não se dava bem com o prefeito do município-sede e os adventícios chamados romeiros se achavam discriminados pela população nativa.
Era preciso, então, o surgimento de um fato novo, porém forte o suficiente para esquentar os ânimos da população e capaz de deixar todos com os nervos à flor da pele, prontos para fazer valer a reivindicação tão justa.
E, por incrível que pareça, em vez de um apenas, surgiram três. Um atentado de morte contra o médico baiano; uma frase insultuosa ao povo juazeirense proferida no Crato durante uma visita pastoral do bispo auxiliar de Fortaleza, por um padre da comitiva e finalmente, a determinação desastrosa do prefeito cratense que ameaçou de forma ostensiva usar a força policial para receber os impostos atrasados, que os contribuintes resolveram não pagar mais.  A ordem do prefeito era severa: em caso de resistência, bala! 
Pronto, estava criado o ambiente propício para o líder carismático do lugar agir. Ele até então se encontrava receoso, pois era adepto da política da boa vizinhança, e também não queria se indispor com o prefeito cratense, seu amigo, cujo pai havia contribuído de forma bastante efetiva para sua ordenação. E como se não bastasse, era ele próprio um cratense da gema.
A situação era dramática e clamava por uma decisão imediata, pois um conflito armado estava prestes a ocorrer.
 O líder carismático, o padre dos romeiros, estava num dilema: honrar sua naturalidade cratense ou defender a terra que adotou, optando, assim, pela cidadania juazeirense.
Com a frase pronunciada em tom enérgico - “Sou filho do Crato, mas Juazeiro é meu filho” -, o líder carismático desfraldou finalmente a bandeira de independência, e o povoado se tornou livre.
Esta história narrada desta forma, em rápidas pinceladas, é importante demais para terminar aqui. Por isso ela é contada com mais detalhes no meu livro que tem o mesmo título desta matéria.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

POR CAUSA DE UM BEIJO A FESTA ACABOU - Por Assunção Gonçalves


Na década de 30 as festas de Juazeiro eram realizadas no Rádio Clube, que funcionou na Rua do Cruzeiro esquina com Padre Cícero (foto ao lado), no local onde hoje funciona um conjunto de butiques. Este clube era muito freqüentado pelas famílias da sociedade juazeirense. E as festas ficavam mais animadas quando chegavam os caixeiros-viajantes, considerados na época como “bons partidos” para casamentos. Lembro-me muito bem de uma festa especial ali realizada na qual aconteceu um fato considerado banal para os dias de hoje, mas que para aquela época foi um verdadeiro escândalo. A festa estava bem animada, quando de repente ouviu-se o grito desesperado da jovem Carmelita Guimarães, bastante aflita por que fora beijada (de leve e sem nenhuma má intenção) por um caixeiro-viajante. A orquestra parou de tocar e todos os olhares se voltaram para Carmelita e o atordoado visitante. A diretoria do clube foi convocada para resolver o impasse e a solução encontrada foi acabar a festa e fazer severa repreensão ao autor do beijo descabido... Esse fato foi bastante comentado na cidade durante muito tempo. Coisas assim hoje não causam nenhum escândalo, mas naquele tempo...

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Os primeiros programas de auditório da Rádio Iracema

O primeiro programa de auditório da Rádio Iracema teve lugar no andar térreo do Clube dos Doze (no salão onde se realizavam as festas dançantes) em meados da década de 50. Com a denominação de BAZAR, que atraía nas noites de quarta-feira a juventude juazeirense que então só conhecia tal tipo de diversão por informações de similares existentes na capital. No início, o animador era Coelho Alves, ajudado por Robson Xavier de Oliveira, ora revezando com Barbosa da Silva, o nosso inesquecível "Chicão". Depois, veio o DOMINGO ALEGRE  no palco do Cine Capitólio e em seguida no do Cine Eldorado, vindo logo após A CIDADE SE DIVERTE, na sede social do antigo Treze Sport Club, e por fim, no auditório do Cine Plaza. Na sucessão, foram seus principais animadores o autor deste trabalho, Pedro Duarte, Geraldo Alves, Donizete Sobreira e José Brasileiro. Nesses programas foram revelados muitos cantores, (não necessariamente nesta ordem) tais como: Francisco Monteiro, Humberto Alencar, Francisco Alves, Escurinho, Joana D'arc Monteiro, Ivonete Alencar, Francisco Inácio Cavalcante, Louro Miguel, Lourival Silva, Socorro Amorim, Jane Moura, Geraldina Rodrigues, Célia Rodrigues, Estelita Nogueira, José Wellington, Aloísio Alencar, Marcelo Duarte, João José, José Tavares, Fernando Menezes, Irmãs Menezes, Alcimar Monteiro, Sila Brás, Orlando Simões, Emanuel Barreto (Mazinho), Iran Clayton, sem contar dezenas de figuras populares que se quedaram no anonimato, mas que fizeram parte do grande concerto que a nossa Rádio Iracema nos proporcionou no passado. (Texto extraído de Breve história da radiofonia e jornalismo no rádio, de Alceli Sobreira)
Na foto abaixo alguns radialistas e cantores citados na matéria.


































1.Coelho Alves. 2. Francisco Barbosa. 3. Geraldo Alves. 4. Donizete Sobreira. 5. Pedro Duarte. 6. Robson Xavier. 7. Alceli Sobreira. 8. Escurinho. 9. Francisco Monteiro. 10. Fernando Menezes. 11. Humberto Alencar. 12. José Brasileiro.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A COMARCA DE JUAZEIRO E A POSSE DO JUIZ JOVÊNCIO SANTANA – Por Fausto da Costa Guimarães

Dr. Jovêncio

Quando em 11 de novembro de 1912 pelo simples pedido do Pe. Cícero ao Dr. Justiniano de Serpa, Presidente do Ceará,  este mandou que a Assembleia restaurasse a Comarca do Juazeiro e assim sucedeu, justamente no dia 11 de novembro de 1922. Nomeado logo após o Dr. Jovêncio Joaquim de Santana para Juiz de Direito, tendo lugar a inauguração da Comarca e posse do primeiro magistrado da Comarca no dia 24 de fevereiro de 1923, no dia de sábado, a uma hora da tarde, tendo no solene ato comparecido a Câmara no lugar de costume, Rua São Pedro, o seu prefeito municipal Pe. Cícero Romão Batista que empossou o referido Juiz de Direito. Presente toda Câmara e mais todas as autoridades estaduais e federais e o Cel. Ernesto Medeiros, comandante do Corpo de Polícia no Crato, representando o Governador do Estado; Cel. Pedro Silvino de Alencar - Prefeito de Araripe; Deputado Estadual Dr. Sebastião Azevedo, de Fortaleza; Vigário da Freguesia, Pe. Manoel Correia de Macedo e grande cortejo da massa popular, inclusive famílias e comerciantes. Declarou o Dr. Juiz de Direito, em palavras repassadas de civismo e patriotismo que estava inaugurada a Comarca e ele, Juiz, empossado. Tomou a palavra o Revmo. Pe. Cícero, pronunciando um discurso substancioso abrangendo todos os pormenores do ato presente em frases variadas e muito significativas e bem elaboradas. O eminentíssimo chefe e prefeito Padre Cícero Romão Batista que a todos emocionou, não esquecendo de falar do civismo másculo do ex-Presidente Dr. Epitácio Pessoa e, como do atual presidente da República Dr. Artur Bernardes, não esquecendo de falar no amigo ausente Dr. Floro que o enalteceu, sendo saudado por uma grande salva de palmas. Tocando na ocasião a banda de música Padre Cícero brilhante dobrado e uma grande girândola de foguetes estourou no espaço, estando o edifício da Comarca bem ornado com o devido estilo, bandeira içada, sendo nesta ocasião inaugurados os retratos do Dr. Epitácio Pessoa, Dr. Artur Bernardes - Presidente da República, Dr. Floro Bartolomeu da Costa - Deputado Federal, ausente, nos trabalhos do Congresso Federal. Usando da palavra o orador oficial, jornalista Dr. Leopoldino Costa Andrade, jornalista da Folha no Rio de Janeiro, que muito de boa vontade cooperou para o brilhantismo da festa em todos os seus detalhes, pronunciando discurso escrito, bem elaborado a respeito do solene ato, trazendo a baila o nome do Dr. Epitácio Pessoa, que muito enalteceu suas qualidades de estadista emérito e criterioso, como do Dr. Artur Bernardes, sincero e competente para o cargo que ocupa de Chefe da Nação, atualmente, e como do Prefeito Municipal Pe. Cícero o que de melhor pode dizer, como do povo e progresso da terra, lembrando-se também do amigo ausente Dr. Floro Bartolomeu que em lisonjeiras palavras, bem o disse. E assim, depois de dissertar o seu magistral discurso findou suas últimas palavras debaixo de uma grande salva de palmas. Aí assomou a tribuna o vigário Macedo que dissertou um belo discurso que muito agradou com suas bem elaboradas frases de sacerdote virtuoso e inteligente ao grande auditório que muito o aplaudiu, e assim por diante outros usaram da palavra com brilhantismo compreendendo bem o dever de oradores que falavam no momento, muitas palmas e vivas ecoavam no grande salão do cerimonial. Conservando-se o dia restante em festa seguida pela noite em casa do Dr. Floro Bartolomeu onde o distinto Juiz Dr. Jovêncio Joaquim de Santana se achava hospedado e mais amigos, e presente o Revmo. Pe. Cícero que a todos confortava com a sua presença de justo. Ali postada a banda de música em suas harmoniosas tocatas bem significava o Juazeiro em festa, do maior regozijo de um povo livre e independente. Teve lugar em casa do mesmo Dr. Floro um lauto jantar às 5 horas da tarde do que todos os circunstantes serviram-se, oferecido pelo Revmo. Pe. Cícero Romão Batista. Foram oferecidos exemplares do livro "Sertão a Dentro" pelo autor Dr. Leopoldino Costa Andrade, do Rio de Janeiro. Obra de algum valor para o Juazeiro defendendo o Revmo. Pe. Cícero das acusações injustas que os inimigos gratuitos faziam com o mais descaro, nas conversações pelos jornais do Rio de Janeiro. Foi desfeita essa maledicência caluniosa com o "Sertão a Dentro". Parabéns ao Sr. Costa Andrade, jornalista da "Folha" no Rio de Janeiro, jornalista inteligente. Ainda o cerimonial da posse do Juiz de Direito: tirada uma comissão de pessoas da primeira classe, acompanhada da banda de música, saímos da casa da Câmara, fomos ver em casa do Dr. Floro Bartolomeu da Costa o Dr. Juiz de Direito e o Revmo. Pe. Cícero Romão Batista, Prefeito Municipal distinto Dr. Jovêncio de Santana, o Juiz, o primeiro magistrado da Comarca, então acompanhadas as duas autoridades por grande número de amigos e admiradores e a banda de música Pe. Cícero, chegamos ao salão da Câmara, com as honras de estilo foram recebidos Juiz e Prefeito pelo corpo municipal, autoridades locais e muitos cavalheiros e senhoritas, sendo recebidos por grande salva de palmas, sendo oferecida a cadeira de honra ao Revmo. Pe. Cícero, o que recusou-se a princípio, porém, depois aceitou, continuando a leitura da ata da inauguração da Comarca e posse do íntegro Dr. Juiz de Direito, tudo com as formalidades do estilo. Depois lida em altas vozes, foi assinada pelas autoridades competentes que ali se achavam. Depois do ato solene foi servido todo auditório por uma cerveja regularmente distribuída.
Eis, em resumo, todo conteúdo da inauguração da Comarca e posse do Juiz de Direito, no dia 24 de fevereiro de 1923. Na inauguração da Comarca, na fala que fez a respeito do ato, o Revmo. Pe. Cícero Romão Batista falando sobre o Juazeiro disse com segurança que o Juazeiro continha 56 ruas, com 30 mil habitantes, contendo em todo município 50 mil almas, e assim concluiu seu belo discurso deixando em todo auditório a mais grata impressão.
(Extraído do livro Memórias de um romeiro, Fausto da Costa Guimarães)

BIOGRAFIA DE DR. JUVÊNCIO

Juvêncio Joaquim de Santana -Bacharel em Direito, Juiz de Direito e Desembargador. Filho do Coronel Antônio Joaquim de Santana (chefe político do município de Missão Velha) e Josefa Maria de Jesus, nasceu no dia 19 de janeiro de 1888, no Sítio Serra dos Matos, município de Missão Velha, Ceará. Bacharelou-se em Ciências Jurídicas e Sociais em 17 de dezembro de 1912, pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Pernambuco. Nomeado aos 13 de janeiro de 1923, Juiz de Direito da Comarca de Juazeiro, da qual afastou-se do cargo, para assumir a Secretaria do Interior e Justiça, no Governo do Dr. José Moreira da Rocha. Juvêncio Santana na década de 20 foi professor do Colégio 24 de Abril, de Jardim, Ceará, fundado pelo Dr. Francisco de Lima Botelho, em 1916, tendo funcionado por sete anos. Lecionou Geografia, História e História Natural. Juvêncio Santana casou-se com a jardinense Beatriz Barreto Gondim, filha do casal José Caminha de Anchieta Gondim (de alcunha Coronel Daudeth) e de Maria Barreto Gondim. A cerimônia aconteceu no dia 27 de janeiro de 1916, em Jardim. Não tiveram filhos. Adotaram como filhos, Ancilon Aires de Alencar (Promotor de Justiça, radicado em São Paulo, Capital) e Terezinha Gondim Medeiros, ambos sobrinhos da D. Beatriz. Dr. Juvêncio era amigo incondicional e afilhado de crisma do Padre Cícero. Foi eleito Deputado Estadual em 1928. Por vários anos despendeu esforços pela prosperidade de Juazeiro e pelo benefício de seus habitantes; muito respeitado e estimado por todos, desempenhou sua missão com integridade de caráter. A 1.° de agosto de 1940, o Dr. Juvêncio foi mais uma vez nomeado Juiz de Direito de Juazeiro do Norte, permanecendo no cargo, até o dia 08 de setembro de 1957, quando veio a falecer, em Juazeiro do Norte, e encontra-se sepultado no túmulo da Beata Mocinha, no cemitério do Perpétuo Socorro, da referida cidade. Terminou sua brilhante carreira de Magistrado, ocupando o elevado cargo de Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará. Foi o Desembargador Juvêncio Joaquim de Santana, um dos juízes mais cultos do Estado do Ceará. Homem de envergadura moral ilibada, político de bastante prestígio, autoritário, porém de fino trato, enfim, uma das figuras mais importantes da história de Juazeiro do Norte. (Extraído do livro Dados biográficos dos homenageados em logradouros públicos de Juazeiro do Norte, de Raimundo Araújo e Mário Bem Filho)

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Centenário da assinatura do Pacto dos Coronéis



Centenário do Pacto dos Coronéis
Daniel Walker

No dia 4 de outubro de 1911, portanto há cem anos, o recém-criado município de Juazeiro foi sede de dois grandes eventos políticos: a posse de Padre Cícero Romão Batista no cargo de Prefeito  (ou Intendente como se chamava na época) e a realização de uma assembleia ou sessão política para assinatura de um controvertido documento que passou à história com o nome de Pacto dos coronéis. O referido documento também foi chamado de Pacto de paz, Pacto de harmonia política, Aliança política, Conferência política, Pacto de Haya-mirim e ainda Artigos de fé política, denominação esta creditada ao Padre Cícero.
Abaixo é feita a transcrição da histórica ata do evento que culminou com a assinatura dos chefes políticos do Cariri  e em seguida emitimos alguns comentários pertinentes ao assunto que é um dos mais polêmicos e importantes da história de Juazeiro e do Ceará.

PACTO DOS CORONÉIS
Aos quatro dias do mês de outubro do ano de mil novecentos e onze, nesta vila de Juazeiro do Padre Cícero, município do mesmo nome, Estado do Ceará, no paço da Câmara Municipal, compareceram à uma hora da tarde os seguintes chefes políticos: coronel Antônio Joaquim de Santana, chefe do município de Missão Velha; coronel Antônio Luís Alves Pequeno, chefe do município do Crato; reverendo Padre Cícero Romão Batista, chefe do município do Juazeiro; coronel Pedro Silvino de Alencar, chefe do município de Araripe; coronel Romão Pereira Filgueiras Sampaio, chefe do município de Jardim; coronel Roque Pereira de Alencar, chefe do município de Santana do Cariri; coronel Antônio Mendes Bezerra, chefe do município de Assaré; coronel Antônio Correia Lima, chefe do município de Várzea Alegre; coronel Raimundo Bento de Sousa Baleco, chefe do município de Campos Sales; reverendo padre Augusto Barbosa de Menezes, chefe do município de S. Pedro do Cariri; coronel Cândido Ribeiro Campos, chefe do município de Aurora; coronel Domingos Leite Furtado, chefe do município de Milagres, representado pelos ilustres cidadãos, coronel Manuel Furtado de Figueiredo e major José Inácio de Sousa; coronel Raimundo Cardoso dos Santos, chefe do município de Porteiras, representado pelo reverendo Padre Cícero Romão Batista; coronel Gustavo Augusto de Lima, chefe do município de Lavras da Mangabeira, representado por seu filho João Augusto de Lima; coronel João Raimundo de Macedo, chefe do município de Barbalha, representado por seu filho major José Raimundo de Macedo e pelo juiz de direito daquela comarca, doutor Arnulfo Lins e Silva; coronel Joaquim Fernandes de Oliveira, chefe do município de Quixará, representado pelo ilustre cidadão major José Alves Pimentel; e o coronel  Inácio de Lucena, chefe do município de Brejo Santo, representado pelo coronel Antônio Joaquim de Santana. A convite deste que, assumindo a presidência da magna sessão, logo deixou, ocupando-a o reverendo Padre Cícero Romão Batista para em seu nome declarar o motivo que aqui os reunia. Ocupada a presidência pelo reverendo Padre Cícero, fora chamado o major Pedro da Costa Nogueira, tabelião e escrivão da cidade de Milagres, que também se achava presente. Declarou o presidente que aceitando a honrosa incumbência confiada pelo seu prezado e prestigioso amigo coronel Antônio Joaquim de Santana, chefe de Missão Velha e traduzindo os sentimentos altamente patrióticos do egrégio chefe político, Excelentíssimo Senhor Doutor Antônio Pinto Nogueira Accioly, que sentia dalma as discórdias existentes entre alguns chefes políticos desta zona, propunha que, para desaparecer por completo esta hostilidade pessoal, se estabelecesse definitivamente uma solidariedade política entre todos, a bem da organização do partido os adversários se reconciliassem, e ao mesmo tempo lavrassem todos um pacto de harmonia política. Disse mais que para que ficasse gravado este grande feito na consciência de todos e de cada um de per si, apresentava e submetia à discussão e aprovação subseqüente os seguintes artigos de fé política:
Art. 1º - Nenhum chefe político protegerá criminoso do seu município nem dará apoio nem guarida aos dos municípios vizinhos, devendo ao contrário, ajudar a captura destes, de acordo com a moral e o direito.
Art. 2º - Nenhum chefe procurará depor outro chefe, seja qual for a hipótese.
Art. 3º - Havendo em qualquer dos municípios reações, ou mesmo, tentativas contra o chefe oficialmente reconhecido com o fim de depô-lo, ou de desprestigiá-lo, nenhum dos chefes dos outros municípios intervirá nem consentirá que os seus municípios intervenham ajudando direta ou indiretamente os autores da reação.
Art. 4º - Em casos tais só poderá intervir por ordem do governo para manter o chefe e nunca para depor.
Art. 5º - Toda e qualquer contrariedade ou desinteligência entre os chefes presentes será resolvida amigavelmente por um acordo, mas nunca por um acordo de tal ordem, cujo resultado seja deposição, a perda de autoridade ou de autonomia de um deles.
Art. 6º - E nessa hipótese, quando não puderem resolver pelo fato de igualdade de votos de duas opiniões, ouvir-se-á o governo, cuja ordem e decisão será respeitada e restritamente obedecida.
Art. 7º - Cada chefe, a bem da ordem e da moral política, terminará por completo a proteção a cangaceiros, não podendo protegê-los e nem consentir que os seus munícipes, seja sob que pretexto for, os protejam dando-lhes guarida e apoio.
Art. 8º - Manterão todos os chefes políticos aqui presentes inquebrantável solidariedade não só pessoal  como política, de modo que haja harmonia de vistas entre todos, sendo em qualquer emergência “um por todos e todos por um”, salvo em caso de desvio da disciplina partidária, quando algum dos chefes entenda de colocar-se contra a opinião do chefe do partido, o Excelentíssimo Doutor Antônio Pinto Nogueira Accioly: Nessa última hipótese cumpre ouvirem e cumprirem as ordens do governo e secundarem-no nos seus esforços para manter intacta a disciplina partidária.
Art. 9º - Manterão todos os chefes incondicional solidariedade com o Excelentíssimo Doutor Antônio Pinto Nogueira Accioly, nosso honrado chefe, e como políticos disciplinados obedecerão incondicionalmente suas ordens e determinações.
Submetidos a votos, foram todos os referidos artigos aprovados, propondo unanimemente todos que ficassem logo em vigor desde essa ocasião.
Depois de aprovados, o Padre Cícero levantando-se declarou que sendo de alto alcance o pacto estabelecido, propunha que fosse lavrado no Livro de Atas desta municipalidade todo o ocorrido, para por todos os chefes ser assinado, e que se extraísse uma cópia da referida ata para ser registrada nos Livros das municipalidades vizinhas, bem como para ser remetida ao doutor presidente do Estado, que deverá ficar ciente de todas as resoluções tomadas, o que foi feito por aprovação de todos e por todos assinado.
Eu, Pedro da Costa Nogueira, secretário, a escrevi.
Assinam:
Padre Cícero Romão Batista
Antônio Luís Alves Pequeno
Antônio Joaquim de Santana
Pedro Silvino de Alencar 
Romão Pereira Filgueiras Sampaio
Roque Pereira de Alencar
Antônio Mendes Bezerra
Antônio Correia Lima
Raimundo Bento de Sousa Baleco
Padre Augusto Barbosa de Menezes
Cândido Ribeiro Campos
Manoel Furtado de Figueiredo
José Inácio de Sousa
João Augusto de Lima
Arnulfo Lins e Silva
José Raimundo de Macedo
José Alves Pimentel


Comentários
- “O receio era o de que a reunião acabasse em tiro. Nunca se viram – nem jamais se voltaria a ver – tantos coronéis sertanejos assim reunidos em um mesmo lugar, como naquele 4 de outubro de 1911, em Juazeiro, o dia da posse do Padre Cícero na prefeitura. Lá fora, as ruas estavam enfeitadas de bandeirinhas de papel e a banda do mestre Pelúsio de Macedo fazia a festa. No interior da casa que sediou a solenidade oficial, os dezesseis homens vestidos em roupa de domingo foram recebidos com chuvas de flores e papel picado. Mas não escondiam de ninguém, que ruminavam uma coleção de rancores mútuos. Praticamente todos os chefes políticos do Cariri – incluindo o coronel Antônio Luís – haviam acatado o chamado do sacerdote para tão insólito conclave que marcaria seu primeiro dia como prefeito. Quando Padre Cícero levantou da mesa ao final daquela histórica reunião e passou a colher a assinatura de todos, os coronéis do Cariri já  tinham tomado consciência de que, diante da nova situação, precisavam eleger um chefe imediato entre eles. Esse chefe não seria, necessariamente, Accioly. Carecia ser alguém que estivesse mais perto deles e que, a despeito das diferenças e dos ódios pessoais que os separavam, fosse um homem cuja palavra seria acatada sem ressalvas. Os coronéis precisavam de um líder político no Cariri. Naquela tarde, esse líder se revelara naturalmente – e já tinha um nome. O nome dele, ninguém se atreveria a discordar, era Padre Cícero”. Assim, Lira Neto descreveu em seu livro Padre Cícero, poder, fé e guerra no sertão a reunião em que foi assinado o Pacto dos Coronéis.
- Durante muito tempo se especulou a respeito de quem concebeu a ideia do polêmico documento. Os estudiosos chegaram a apontar os seguintes nomes: Padre Cícero, Dr. Floro Bartolomeu da Costa, coronel Antônio Luís Alves Pequeno, coronel Antônio Pinto Nogueira Accioly (Presidente do Ceará) e até mesmo o juiz de Barbalha, Dr. Arnulfo Lima e Silva.
- Entretanto, num dos artigos da série “Formal desmentido” publicada por Dr. Floro Bartolomeu, no jornal Unitário, de Fortaleza, de 9 a 17 de junho de 1915,  ele escreveu: “Determinado o dia 11 de outubro do mesmo ano de 1911 para a inauguração da vila e estando mui acirrados os ódios dos chefes do Cariri, especialmente os de Lavras, Aurora, Milagres, Missão Velha, Barbalha e Brejo dos Santos, contra os do Crato e os de Porteiras, lembrei ao Padre Cícero a necessidade de estabelecer-se a harmonia entre todos.  Para isso conseguir, a todos convidamos, de acordo com o Dr. Nogueira Accioly, para no dia 4 de outubro estabelecermos um pacto de paz entre todos os chefes inimizados.”
- Em seu livro Império do bacamarte o escritor Joaryvar Macedo disse: “Seja quem for o autor do pacto, é lícito admitir, ou mesmo acreditar nas suas retas intenções. Não parece justo considerá-lo uma farsa em sua gênese, como querem alguns. O acordo, na sua realidade, transformou-se numa pantomima, porque inexeqüível, pelo menos em parte dos seus artigos. Homens, na sua maioria despóticos, vezeiros em dominar pelo poder do bacamarte, achavam-se absolutamente despreparados para assumir compromissos de tal ordem. De outro ângulo, deixar de proteger facínoras e cangaceiros equivaleria a decretar a extinção do coronelismo. Um dos seus mais fortes esteios era precisamente o banditismo”.

- Diz ainda Joaryvar: “O texto da ata da singular Assembleia dos coronéis sul-cearenses, na qual se firmou o curioso pacto, reflete a posição proeminente do Padre Cícero na contextura coronelítica regional. Manifesta ademais, que, naquela conjuntura, a jeito trabalhada e preparada, o levita, além de assumir a chefia local, investia-se, concomitantemente, no comando político da região”.

- Otacílio Anselmo na volumosa obra Padre Cícero, mito e realidade, diz que na reunião em que Padre Cícero foi empossado como primeiro Prefeito de Juazeiro, o juiz de Barbalha, Dr. Arnulfo Lins e Silva “aproveitou o ensejo para inspirar e, sob o patrocínio do Padre Cícero, promover um convênio entre os numerosos chefes municipais ali reunidos, no sentido de estabelecer um clima de paz e assegurar a tranqüilidade das populações caririenses, até então em pânico permanente por conflitos armados resultantes de velhos ódios entre grupos e famílias irreconciliáveis, transmitidos de geração em geração e que ainda hoje subsistem.”

- Assim como Joaryvar Macedo, Otacílio Anselmo também acha que “apesar da boa intenção do seu idealizador, o pacto seria inexeqüível num meio em que a lei vigente era a do mais forte e onde as questões, mesmo as mais simples, resolviam-se ao sabor da vontade soberana de velhos sobas apegados a seus interesses econômicos e as suas ambições políticas”.

- Edmar Morel parece querer atribuir a ideia do pacto dos coronéis ao Padre Cícero, pois em sua obra Padre Cícero, o santo do Juazeiro ele assim escreveu: “O Padre querendo firmar o seu prestígio junto à oligarquia dos Acciolys, que já governavam o Ceará há vinte anos, em dois períodos, e ao mesmo tempo pôr em prova se ainda seria hostilizado pelos políticos, seus vizinhos, como no caso das minas do Coxá, levanta a ideia da realização de um convênio, no Juazeiro, com a participação de todos os senhores feudais, senhores de cangaceiros e senhores de eleitores”. O autor conclui tachando o pacto como “uma página da história do banditismo no Nordeste, um pacto de honra assinado pelos maiores e mais respeitáveis coronéis que infelicitaram os sertões do Brasil, atirando homens contra homens e transmitindo o ódio e a sede de vingança de geração em geração. Uma página celebérrima do cangaceirismo no Brasil”.

- Na mesma linha segue Amália Xavier de Oliveira, quando em seu livro O Padre Cícero que eu conheci, escreveu: Foi o Padre Cícero quem programou, para o dia de sua posse, uma reunião com os chefes políticos da região a fim de assinarem um pacto de amizade e apoio mútuo tendo como um dos objetivos evitar movimentos que perturbassem a ordem na região caririense, procurando resolver as questões que surgissem, sem contendas prejudiciais, ao desenvolvimento das comunas”. E concluiu Amália Xavier de Oliveira: “Para fazer apresentação dos artigos o coronel Santana passou a Presidência (da reunião) ao Rev. Pe. Cícero, que explicou, aos presentes, a razão por que se fazia, naquele momento, um pacto de amizade e auxílio mútuo, com aquele programa de orientação”. Esta passagem, inclusive, está registrada na ata do pacto transcrita no início deste capítulo.

- Para o escritor Rui Facó, na sua famosa obra Cangaceiros e fanáticos, “o pacto era na verdade um sinal de debilidade, um prenúncio de decadência do coronel tradicional, do potentado do interior, outrora senhor absoluto de seu feudo e em disputa constante com os feudos vizinhos. Sua maneira de pensar fora sempre esta: todos lhe deviam render vassalagem!”.

- Já Irineu Pinheiro, autor de Efemérides do Cariri, os coronéis presentes à reunião em Juazeiro assinaram de comum acordo “um pacto de amizade e apoio mútuo com o fim de extinguir a proteção aos criminosos, evitar movimentos que perturbassem a vida das comunas caririenses, buscando resolver as questões que surgissem entre chefes vizinhos!”.

- A imprensa cearense deu vasta cobertura à reunião que culminou com a assinatura do pacto. Nada, contudo, se compara ao que estampou o jornal O Correio do Cariri, da cidade do Crato que após extensa matéria concluiu assim: “Podem os nossos leitores avaliar das boas intenções daqueles que, esquecendo antigos ressentimentos, se congraçaram, para, cumprindo santos deveres sociais, rasgarem um novo horizonte mais amplo e mais claro, aos públicos negócios desta opulenta e próspera parte de nosso Estado”.

- Mas para o historiador americano Ralph della Cava, autor de Milagre em Joaseiro, os coronéis do Cariri “contentes com a vitória obtida sobre Antônio Luís e desejosos de impedir que o Juazeiro viesse a dominar a região lançaram na famosa reunião a proclamação do hoje famoso Pacto dos Coronéis”. E conclui della Cava: “Finalmente, com o objetivo de fazer vigorar o pacto e garantir a participação da região na divisão do espólio político do poder estadual, comprometiam-se todos os delegados (presentes à reunião), a manter “incondicional” solidariedade com o excelentíssimo doutor Antônio Pinto  Nogueira Accioly, seu honrado chefe, e como políticos disciplinados obedecer incondicionalmente suas ordens e  determinações”.

- No final das contas, o certo mesmo é que o pacto falhou fragorosamente no conteúdo dos seus dois últimos artigos, pois cerca de pouco mais de três meses após a sua assinatura o presidente Accioly é apeado do poder, constituindo-se no mais duro golpe para os chefes políticos Acciolynos do Ceará.

- O baque do velho cacique da política cearense trouxe de roldão também o baque de muitos coronéis do Cariri, seus correligionários, mas, consoante acentua Joaryvar Macedo “a partir daí, começariam os caciques sul-cearenses, com desmedido empenho, a preparar uma sublevação, no sentido de retornarem ao poder supremo dos seus redutos eleitorais. E voltaram todos, com a vitória da rebelião de Juazeiro, de 1913 para 1914, - uma sedição dos coronéis”.

- À reunião para assinatura do Pacto duas importantes forças políticas do Cariri não marcaram presença nem mandaram representantes: coronel Basílio Gomes da Silva, de Brejo Santo, e coronel Napoleão Franco da Cruz Neves, de Jardim, pois ambos já haviam rompido com Accioly. Contudo, outros chefes políticos destes municípios estavam presentes.

- Por ser dono de várias propriedades rurais (embora tenha deixado tudo para a Igreja) e poder para decidir uma eleição, Padre Cícero é considerado por muitos escritores como tendo sido um coronel. Mas a pecha de coronel, no sentido como o termo é usado e entendido no Nordeste, não se coaduna com o comportamento e a personalidade do Padre Cícero. Ninguém conhece registro da existência de armas em sua residência ou de capangas a sua disposição, coisas muito comuns aos coronéis de que fala a literatura.
           
- Sobre isso nada mais esclarecedor do que o depoimento do historiador Marcelo Camurça, como está no seu livro Marretas, molambudos e rabelistas: “No meu modo de ver o Padre Cícero se relacionou com as oligarquias, transitou na sociedade política, se compôs com os setores dominantes, tanto pela sua condição de sacerdote letrado, um intelectual tradicional, e esta condição o estimulava qual outros padres no Império e na República a ter uma projeção social, quanto pela vontade de ajudar o seu povo, de levar adiante o seu projeto de manter de pé a comunidade do Juazeiro, pela via da conciliação tão marcante na sua visão de mundo. Porém, o Padre Cícero nunca abriu mão de sua identidade sacra, do seu papel de guia religioso, de líder espiritual, para se tornar um político profissional, tampouco abriu mão da mística do "milagre" e de sua visão messiânica, simbólica do catolicismo popular, daquele primeiro sonho que teve quando Cristo encarregou-o de cuidar do Juazeiro e de seu povo. Este sem dúvida não é o perfil de um "Coronel" latifundiário ou de um político das classes dominantes. Um "Coronel" apesar da camaradagem e da articulação do compadrio com seus agregados nunca teve com seu povo um relacionamento tão intenso e profundo; no campo ideológico: como os vínculos do catolicismo popular, da "Santidade"; no campo político e social: como os conselhos dados pelo Padre nos seus "sermões" onde forjou uma ética sertaneja do bem viver; no campo econômico: onde regulou e organizou a produção e o emprego”.
         
- Posicionamento semelhante foi adotado pelo historiador Régis Lopes em seu livro Caldeirão, quando afirma categoricamente: “Padre Cícero alia-se aos coronéis, mas não se torna um deles. Suas atitudes são de apadrinhamento, de um protetor dos desclassificados, de um conselheiro e não de um político ou coronel”.
                                                   MEMÓRIA FOTOGRÁFICA
Tela da artista plástica juazeirense Assunção Gonçalves mostrando sua concepção sobre a sessão solene  na qual foi assinado o Pacto dos coronéis pelos chefes políticos do Cariri.
 














NOTA DO EDITOR: Leia neste blog na página de POLÍTICA este texto em nova edição mais atual revista e aumentada.