terça-feira, 21 de janeiro de 2014

HOMILIA DE DOM FERNANDO PANICO, Bispo do Crato, na celebração da missa pelo centenário da morte da Beata Maria de Araújo

 17.01.2014
 Hoje celebramos o centenário da morte da Beata Maria de Araújo. E nós podemos contemplar esta mulher dentro do movimento dos beatos e das beatas que se criou ao redor do Pe. Cícero. Pessoas que buscavam, através de uma vivência da sua fé de uma maneira até radical, buscavam servir a glória de Deus, tornando-se abertas e disponíveis para ajudar, sobretudo os mais pobres, para viverem em comunidade os ensinamentos do Evangelho. Para expressarem, com a força da oração, o poder de Deus que age na vida da gente. A beata Maria de Araújo, assim como outras mulheres, foi uma destas testemunhas, que hoje ainda nos ensina, com o seu exemplo e com a sua própria vida, a serviço da justiça e da profecia do Reino de Deus. Eu gostaria de deixar-lhes nesta oportunidade umas poucas mensagens em forma de prece: estamos aqui para rezar. Esta é a única finalidade e o objetivo desta celebração deste centenário. Recordar uma figura que nos fala, uma mensagem que ainda merece ser escutada. A primeira mensagem tiramos da primeira leitura que ouvimos: Samuel que escuta o clamor do povo, um povo que pouco a pouco se afastava da lei de Deus, para se conformar com os povos pagãos, fazer o que os outros, que não tinham a fé verdadeira, estavam fazendo. Querer imitar a vida dos pagãos. Então Samuel recebeu do povo este clamor: queremos um Rei! Queremos nós também um Rei como os outros povos! Deus é o Rei do seu povo! E Samuel transmite para Deus essa vontade, esse grito do povo. Deus naturalmente, numa linguagem humana dizemos, sentiu-se ofendido pela ingratidão deste povo, que preferia outro a Ele. Estava pedindo um Rei para se afastar da verdadeira fé naquele Deus que o havia libertado da escravidão do Egito, que o havia introduzido na terra onde corre leite e mel. O Deus da Aliança, o Deus da Fidelidade... agora este Deus é como que tirado de lado, colocado de lado. O povo prefere viver como os pagãos: um reino humano, se esquecendo e negligenciando a obediência ao Rei divino. Amados irmãos, eu creio que a Beata Maria de Araújo nesta noite, neste dia e sempre, nos vem recordar que somente a Deus devemos a nossa obediência, a nossa fidelidade. Aos homens, eu creio que devemos ter respeito e aquela fraternidade que nos é pedida pelo Evangelho. Mas preferir a lei dos homens do que a de Deus é contrário à lei do Senhor. E foi o que a Beata Maria de Araújo nos provou com o seu testemunho! Ela que havia presenciado o fenômeno extraordinário, ela que tinha sido como que um instrumento nas mãos de Deus para a realização de um sinal que ainda hoje é objeto de reflexão, de estudo... mas ela, na sua profunda fé, reconheceu naquele gesto, naquele sinal, naquela hóstia sagrada que se converteu em sangue na boca dela, reconheceu o sinal da misericórdia de Deus que vem nos provar o seu amor, que perdoa a todos através do sangue de Cristo. Maria de Araújo foi colocada em situações para que ela negasse este fato. Ela preferiu silenciar. É a mártir do silêncio! Ela passou por muitas provações. Passou por sérias dificuldades: foi injustiçada, foi ofendida na sua dignidade de mulher, mas ela tudo suportou com amor. Não com raiva, não com ódio, não com o desejo de “dar o troco”, mas tudo fez com amor, obedecendo a Deus, reconhecendo na sua vida a vontade de Deus que a chamava para participar do mistério da Cruz redentora, de Cristo. Esta Beata Maria de Araújo é uma mulher que diante da Paixão de Cristo se comovia, chorava, entrava em transe, em êxtase, sentia no seu próprio corpo as dores da Paixão de Cristo, a coroa de espinhos, os estigmas... Diante da Cruz, contemplando o Cristo, o próprio Deus feito homem que por nosso amor aceitou morrer na Cruz, contemplando este amor de Deus por nós, ela sentia-se profundamente comovida. Por que? Porque amava Deus de verdade! E preferiu permanecer fiel a este amor do que agradar aos homens... Essa é a primeira prece que eu dirijo hoje, neste centenário: Nosso Pai, dai-nos a graça de permanecer sempre fieis a ti. De não fazermos de acordo com a mentalidade do mundo! Queremos ser fiéis a Jesus, hoje e sempre. Não queremos substituir Jesus por outros que o mundo hoje fala que são salvadores da Pátria. Só Jesus é o nosso Deus! Só o Evangelho é o caminho para a vida eterna! A mentalidade do mundo que ensina tanta coisa errada quer que adoremos os falsos ídolos: o prazer, o dinheiro, a vaidade, a glória humana, a injustiça, a violência... Senhor, só a ti nós queremos servir e amar. E pedimos a intercessão, lá no céu, da Beata Maria de Araújo, para permanecermos sempre puros nas nossas intenções. Puros de coração. Não um coração contaminado pelo pecado, mas um coração possuído pela graça de Deus. Vocês sabem também como a Beata Maria de Araújo enfrentou muitas provações na sua vida, por causa do fenômeno extraordinário que ocorreu naquele dia, na primeira sexta-feira do mês de março do ano de 1889, quando a hóstia se converteu em sangue na boca da Beata. Vocês sabem que a partir de então, começou um fenômeno que prova como Deus escreve direito por linhas tortas na história dos seus eleitos. Deus se serviu também desse fenômeno extraordinário, para suscitar um movimento grandioso de pessoas, que se colocam no caminho de Jesus, com Maria, Mãe das Dores, ao encontro do coração de Cristo, ao encontro do Deus da vida! Começaram as romarias. Com este fenômeno da hóstia consagrada, este afluxo de pessoas que vinham a Juazeiro para se encontrar com Padre Cícero, o conselheiro dos pobres, agora, a partir deste momento, o fluxo de pessoas que vinham a Juazeiro tem como finalidade encontrar-se com uma experiência forte de fé. Essa experiência que a Beata Maria de Araújo tinha realizado: a experiência do encontro com Cristo. Amados irmãos, esta é a segunda prece que eu faço nesta noite: venerar a memória da Beata Maria de Araújo hoje, deve servir para todos nós um renovado compromisso de encontro pessoal com Jesus. Um Jesus da vida da Beata Maria de Araújo. Um Jesus para o qual Maria de Araújo tinha consagrado inteiramente a sua vida; foi para Jesus que ela fez os votos de permanecer virgem, de ser pobre, como Jesus; de seguir Jesus pelo caminho da Paixão, e Jesus a ouviu, Jesus a escutou e a associou a este mistério da sua Cruz. Como sofreu a Beata Maria de Araújo! Os inquéritos do famoso processo movido contra o Pe. Cícero, e consequentemente contra o fenômeno que tinha como protagonista a Beata Maria de Araújo, esses inquéritos falam! Quantos vexames, quanto sofrimento, quantas injustiças... eu não hesito em dizer que a Maria de Araújo pode ser tida, para nós hoje, como uma das tantas mulheres que no nosso Cariri foram e continuam sendo injustiçadas, violentadas, assassinadas, mortas pela violência!!! É grande o número de mulheres na nossa sociedade, no nosso Cariri ...no último ano de 2013 e já agora nos primeiros dias do ano de 2014, são muitos os casos de homicídio, de morte violenta, de desrespeito a dignidade da mulher. A Beata Maria de Araújo foi uma dessas. Então a nossa prece, queridos amigos – no centenário não podemos olhar só para trás, nós olhamos para o nosso momento atual e olhamos também para o nosso futuro – e diante de tantas mulheres que, até depois da morte continuam sendo violentadas, pois não são reconhecidos os seus direitos, diante desses casos de sofrimento da mulher hoje, a nossa prece é para que Deus nos dê sabedoria, Deus nos dê conselho, Deus nos dê força para lutar contra esta onda na sociedade a ponto de que já não é mais notícia o fato do assassinato de uma mulher ou de um homem. Desrespeito à vida! É isso, queridos amigos, que hoje nós queremos pedir a Deus, lembrando a vida e a morte da Beata Maria de Araújo. Peçamos para que todos nós que estamos aqui reunidos, no centenário da morte dela, possamos ter esta inteligência, esta luz interior, de seguir a Jesus que é o nosso Rei, não preferir outros reis que não sejam Jesus e não abraçar outro reino que não seja o reino da Justiça e da Profecia! O Reino da Verdade e da Misericórdia! O Reino do Amor, o Reino de Deus! Que a Beata Maria de Araújo, assim como o Padre Cícero nos ajude a todos para que a nossa memória deles, seja uma memória viva, uma memória que transforme a nossa vida! Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

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