domingo, 24 de julho de 2011

Resumo histórico da educação em Juazeiro do Norte - Por Amália Xavier de Oliveira


Quero confirmar o que afirmo quando digo: Escola Normal Rural, "Célula Mater" do desenvolvimento cultural de Juazeiro, convidando os que me quiserem ouvir, para dar um passeio nesta Juazeiro do Norte indo do presente em 1934 a um passado dos últimos anos do século 19 e primeiros anos do século 20.
Século 19 — 1860: A primeira Escola Régia, localizada em Juazeiro - Professor — o Capelão Pe. Antônio de Almeida que, em 1865, alistou-se no Batalhão dos Combatentes da Guerra do Paraguai. Foi substituído pelo Prof. Simião Correia de Macedo, que teve como sucessor seu irmão, Pedro Correia de Macedo.
Na década de 1880 foi criada a segunda Escola, regida pela Professora D. Naninha ou Ana Joaquina de São José, que criou Joana Tertulina de Jesus, beata Mocinha. D. Naninha ou Ana Joaquina de São José era casada com o Sr. Vicente de Oliveira Mota.
Ainda na era de 1880, duas professoras foram preparadas para assumir o cargo nas duas cadeiras existentes: foram elas D. Generosa Landim e D. Carolina Sobreira Lobo.
Na década de 1890 o Padre Cícero localizou quatro Escolas Particulares: duas masculinas; a primeira regida por Guilherme Ramos de Maria, e a segunda por Mestre Miguel. Duas femininas: a primeira regida por Izabel Montezuma da Luz e a segunda por Maria Cristina de Jesus Castro, Mensalidade a pagar: 10 tostões.
Século 20 - primeira e segunda décadas: Apareceram outras escolas particulares: Francisco Belmiro Maia; José Joaquim Teles Marrocos e Raimundo Siebra.
Em 1912 uma Escola Pública - professora Maria Luíza Furtado Landim.
Em 1914 - Josefa de Alcântara Leite de Alencar.
Em 1916 - Dr. Floro Bartholomeu da Costa instalou algumas escolas municipais, nomeando para duas delas: Donata Bezerra de Araújo e Maria Conceição Esmeraldo.
Mais ou menos em 1920, talvez, mais duas escolas públicas regidas por duas professoras: Adelaide Sousa Melo e Raimunda Lemos. Estas professoras sobressaíram, na época, ensinando: Português, Matemática, Geografia, História, Ciências. Fizeram mais: faziam-se presentes com os seus alunos nas festas religiosas, sociais e políticas.
Em 1922, o Pedagogo Professor Lourenço Filho, chamado de São Paulo pelo Presidente Serpa para Diretor da Instrução no Ceará, iniciou a Reforma no Curso Normal.
Em 1923, diploma-se a primeira Turma da Reforma Lourenço Filho. Dela fazia parte a juazeirense Maria Gonçalves da Rocha Leal, que recebeu, como prêmio, uma cadeira em 1924, localizada em Juazeiro.
Em 1927, as 5 cadeiras primárias e isoladas, existentes na cidade, foram agrupadas e a Direção entregue à professora Maria Gonçalves, que com Stela Pita, Leonina Sobreira Milfont, Adelaide Melo e Elvira Medeiros, constituíram o Grupo, onde os alunos faziam até o 3.° ano primário.
Em 1928, chega a Juazeiro a segunda juazeirense que conseguia um diploma de professora no Colégio das Dorotéias de Fortaleza, equiparado à Escola Normal. Era esta que aqui vos fala e responde pelo nome de Amália. Não conseguindo uma cadeira, abriu um curso particular, onde recebia alunos, dos quais sito alguns ainda entre nós: Joãozinho e Zezinho Figueiredo, Hildegardo e Zuíla Belém, Assunção Gonçalves, Diva Pinheiro,  Dolores Augusto, Lourival  Marques (da Rádio Nacional), Papírio Carleial,  Engenheiro,  residente no Estado da Bahia.  Ainda em 1928, assume a Diretoria do Grupo, Nina Sobreira Milfont, substituindo Maria Gonçalves, que resolvera passar uma temporada em Cucaú, usina perto de Recife.   Somente em 1929 no Governo de Matos Peixoto, com Moreira de Sousa na  direção da Instrução, foi criada mais uma cadeira no Grupo Escolar e a professora Amália Xavier de Oliveira foi chamada para ensinar na 4ª Série do Grupo.  No fim do ano receberam certificados do Curso Primário, numa sessão soleníssima, presidida pelo Padre Cícero,  19 alunos, cujos nomes de alguns, vão aqui citados: Assunção Gonçalves, Doralice Soares, Dos anjos Soares,  Elza Pimentel, Maroli  Melo,  Dolores Augusto,  Maria  Neném  de  França,  Lourival Marques (da Rádio Nacional), Engenheiro Papírio Carleial.
O desenvolvimento cultural de Juazeiro, em 1929, atingiu o 1primeiro degrau na escada ascensional, chegando ao 4.° Ano Primário.   Era pouco demais para uma cidade que crescia a olhos vistos em outros setores.  Havia ainda três colégios particulares: 1.° - O São Miguel, colégio masculino - Diretor, Dr. Manoel Pereira Diniz. 2.° - O São Geraldo, colégio misto - Diretor-proprietário, Prof., Edmundo Milfont. 3. ° - O Professor Anchieta Gondim, também colégio misto. Precisava mais alguma cousa.  Recursos parcos não permitiam aos pais educarem seus filhos fora da cidade.
A redenção estava perto: Carneiro de Mendonça na Interventoria do Ceará; Moreira de Sousa, na Direção do Ensino; Lourenço Filho na Direção do Instituto de Educação no Rio; Anízio Teixeira na Direção do Ensino no Rio; Gustavo Capanema no Ministério de Educação; Leoni Kasefi, coordenando cursos de aperfeiçoamento no Instituto de Educação, no Rio, pondo à disposição do Ceará 10 bolsas  de Estudos para Professores; Moreira de Sousa, enviando 10 professoras para a Curso de Aperfeiçoamento; Sud Menucci, em São Paulo, estudando as bases dos métodos de ensino pregados por Alberto Torres. Conclusão desse movimento renovador: A Educação  que convém ao Brasil é a Educação Rural, pois o Brasil é uma imensa zona rural. A conclusão foi arrojada.  Os estudiosos puseram-se em campo e, concluíram: Vamos escolher a Escola para o meio a que se destina: Zona Rural - Escola Rural; isto é, Escola que ensine ao homem do campo a "viver no campo, do campo, pelo campo e para o campo”.   Tem que ser diferente; estudemos suas bases e vamos por em prática. A Escola precisa ensinar a viver. O homem para viver não precisa somente aprender a ler, escrever e contar. A Escola que convém é aquela que dá ao homem os meios para viver em seu ambiente, melhorando-o, desenvolvendo-o, orientando suas condições de vida. Enfim é a Escola de acordo com a região a que deve servir. Esta era a Escola sonhada por Moreira de Sousa para o Ceará, realizada por Plácido Castelo no Juazeiro.
Nasceu do idealismo destes dois grandes cearenses. Teve sua infância bafejada pelo prestígio dos entendidos e alimentada com o sacrifício dos que lhe ensinaram a dar os primeiros passos. Da infância à idade adulta, lutou para vencer. Atingiu a meta, razão de ser de sua existência - beneficiar a juventude, preparando o brasileiro digno do Brasil, o cearense digno do seu nome, o juazeirense para valorizar sua terra natal. Até 1973, 66 turmas se sucederam entregando ao Brasil centenas de professores rurais.
Não era uma simples Escola Normal Rural. Vieram depois os Cursos: Ginasial e Colegial. Diversos alunos com certificados do Curso Colegial, enfrentaram o Vestibular para as Faculdades em Recife, Fortaleza, e no ano seguinte podia atender pelo título de Acadêmico. Em 1972 passou a chamar-se Centro Educacional Professor Moreira de Sousa. Por força da Reforma, deu em 1973 a última turma de professoras especializadas para a Zona Rural. Em 1974 saiu a primeira Turma de Professoras do Normal Pedagógico Comum.

sábado, 16 de julho de 2011

A NOITE DOS CACETEIROS -Por Fernando Maia Nóbrega

                                                           “Vivas a meu padim Padre Cícero
                                                           e a Santa Virgem Mãe de Deus”
                                                                       (Grito dos Caceteiros)
                                                                                 
1 - Súmula
Envolvidos:    Romeiros
Local:              Juazeiro do Norte - Igreja de N.Sra. das Dores
Data:               Novembro de 1.934
Motivo:           Invasão à Igreja de N.Sra. das Dores em virtude do receio de que os comunistas     retirassem do altar a          imagem da Santa.
Causa Mortis:             Tiros de fuzil
Acusados:       Contingente da polícia militar sob o comando do sargento Mena Barreto.

2. Antecedentes.
 2.1 – Os Caceteiros
 Os Caceteiros, também conhecidos como “Cerca-igrejas”, eram pessoas simples, moradores de sítios e fazendas do Cariri, afamados por manusearem com destreza, técnica e perícia um bastão de madeira nos combates que exigiam corpo a corpo. No do século XIX, foi muito comum o uso dos Caceteiros como grupo paramilitar na proteção das cidades ou em revoluções devido à escassez e dificuldades na aquisição de armas de fogo. (01) Era uma terrível e assustadora arma usada por eles, tanto para defesa pessoal como para guerra,  fabricada de várias maneiras, conforme afirma Gustavo Barroso: “Quirim é o cacete meio curto, feito de uma vergôntea de duro e fortíssimo jucá, assada, de canela de veado, cheia de estrias, de negra maçaranduba ou coração de negro” (02).
Uma das primeiras vezes em que se têm notícias da utilização desse contingente como grupo paramilitar ocorreu na Confederação do Equador em 1824 pelo Capitão-de-Ordens Joaquim Pinto Madeira. No combate de Picada, os Caceteiros formando uma espécie de infantaria dizimaram ferozmente os adversários com certeiros golpes desse bordão no crânio ou esfacelando ossos onde quer que atingissemcusados:       . Têm-se notícias da presença de 500 Caceteiros na Guerra do Paraguai em 1865 (02)
Um fato bastante interessante é quando os Caceteiros se transformavam em “Cerca-Igrejas”, espécie de defensores ou guardas da religiosidade popular. Bastava qualquer ameaça que pairasse sobre a Igreja, mesmo infundada, eles se reuniam autônima e independentemente e lá estavam como guardiãs da fé, defendendo sua crença e sua religiosidade.

2.2. - Um Medo Coletivo
 A mudança intelectual sofrida pela Europa nos princípios do século XIX, foi profunda demais para ser aceita repentinamente nos cafundós do nordeste brasileiro.
As grandes transformações vindas com a Revolução Francesa, em 1789, apregoando a igualdade, fraternidade e liberdade, impactaram violentamente aqui no Brasil onde imperava ainda a escravidão.
Outro lema proposto na Revolução era o banimento por completo da escuridão intelectual reinante no planeta. Em plena efervescência do positivismo francês, difundia-se o racionalismo e se sugeria o fim das tolas crendices religiosas impostas principalmente pela Igreja Católica, a grande responsável pelo atraso científico do mundo. Existiam pensadores que propunham, até, a troca do catolicismo pelo culto à racionalidade. (03). Chegou-se ao exagero de sugerir que a imagem de Nossa Senhora de “Notre Dame” fosse substituída pela Deusa Razão na cidade de Paris. (04).
No Cariri essa nova filosofia chegou de forma deturpada, gerando receio que tais heresias se repetissem por aqui.
O Brasil evidentemente não ficaria imune às transformações ocorrida na França, posto que nossa elite era educada na Europa e a França ditava a moda e costumes daquele tempo. Daí que em 1821 houve várias manifestações, no sul do país e, no nordeste, em Pernambuco, clamando por uma constituinte que viesse mudar o quadro social da nação.
Tal movimento político se espalhou no interior do Ceará. Talvez pela similaridade com os lemas da Revolução Francesa, o povo, sem muita instrução escolar, interpretou erroneamente as noticias chegadas. Em pouco tempo, corria de boca em boca a inverossímil notícia de que um grupo de ateus pretendia retirar, do altar da matriz do Crato, a imagem de Nossa Senhora da Penha e por, em seu lugar, uma prostituta de nome Úrsula!
Ocorreu que no dia 05 de agosto de 1821, celebrava-se, no Crato, uma missa de ação de graça pelo regime constitucional, quando a igreja foi invadida pelos “cabras” da serra de São Pedro, armados de cacetes, enxadas e foices, com o propósito de impedir que a Santa fosse dali retirada (05). Na ocasião houve brigas e várias pessoas saíram feridas.
O fanatismo religioso no Cariri era tão forte a ponto dos “Cerca-Igrejas” não dependerem do ponto de vista oficial da Igreja ou de líderes políticos para tomarem suas decisões. Auto se denominavam de “Protetores da Fé”, “Guardiãs do Templo” e defendiam per si a bandeira de suas próprias crenças.
É bem verdade que essa autonomia tinha origem na desconfiança dos populares contra os padres. Os sacerdotes, salvo honrosas exceções, viviam em concubinatos, amealhavam riquezas e durante bastante tempo apoiaram o regime escravocrata do Brasil. Há registro que as igrejas do Recife foram invadidas e se quebraram imagens de santos. “Nos municípios de Acarape e Quixeramobim, no Ceará, registram-se também, nos anos de 1874-1875, a invasão de templos católicos, e aí são rasgados livros de atas e quebrados móveis”. (06). Havia uma profunda mágoa na alma do povo contra os padres lazaristas franceses que abandonaram, com medo de morrerem, a cidade do Crato quando lá surgiu cólera morbus, em meados do século XIX, procedimento esse muito contrário aos ensinados por Jesus Cristo.
Um outro fato que veio servir de divisor de águas entre a igreja oficial e a popular foi o denominado “Milagres de Juazeiro”. Em 06 de março de 1889, na Igreja de Nossa Senhoras das Dores, quando o reverendo padre Cícero Romão ao dar comunhão à beata Maria de Araújo, a hóstia consagrada se transforma em sangue!(07) A notícia do milagre se espalhou rapidamente pelo sertão e a cidade passou a ser ponto de peregrinação e o sarcedote a ser venerado como santo pelos nordestinos. A Igreja oficial enviou várias comissões de inquérito para averiguação dos fatos e os considerou como embuste. Uma forte pressão foi exercida sobre o padre Cícero para que negasse a miraculosidade dos acontecimentos. A posição forte da Igreja revoltou os sertanejos que passaram a tê-la como inimiga.
Um bom exemplo dessa dicotomia ocorreu em Juazeiro do Norte em 15 de setembro de 1921. O vigário da cidade, Padre Esmeraldo, resolveu demolir uma das torres da igreja, por estar deteriorada, em péssimo estado de conservação, para reconstruí-la depois. Aos olhos dos Caceteiros ou “Cerca-Igrejas”, isso se constituía uma invasão profana à Casa de Deus! Como guardiões da fé, ali estavam para defenderem-na com sacrifico das próprias vidas! Afirma a escritora Amália Xavier: ”Armados de cacetes pensavam que deviam assim defender a casa de Nossa Senhora (...)” (08).
Via-se, então, que pouco a pouco a formação de um sistema autônomo protetor da fé popular. Sem qualquer comando, sem um local fixo, o grupo de Caceteiros surgia organizado e forte. Bastava um boato qualquer e eles se arvoram de um poder defensor da fé popular.

3-   O Dia do Massacre
 Após a morte do Padre Cícero ocorrida em 1934, aconteceu um processo inverso do que pensava a igreja católica: o número de fanáticos em Juazeiro do Norte aumentou assustadoramente!
Era freqüente a presença de beatos na calçada da igreja pregando o fim do mundo ou interpretando à sua maneira o que o patriarca de Juazeiro falara. A religiosidade popular aumentava de maneira impressionante.
Eis que um fato fez eclodir o velho medo coletivo da usurpação da Casa de Deus! Em 29 de setembro de 1934 (09), Monsenhor Pedro Esmeraldo, ao rezar missa, aproveitou o sermão para falar sobre o regime comunista e as recentes atrocidades que essa forma ateísta de governo vinha cometendo na Rússia. No ápice da empolgação de sua oratória, atentava aos tementes a Deus sobre uma possível destruição da Igreja por partes dos ateus comunistas! Agora era que a coragem dos romeiros estava à prova: expulsar os inimigos de Deus quando chegasse esse terrível momento!
E por essas fatalidades do destino, em meio a sua pregação, o padre Esmeraldo foi acometido de repentina dor de cabeça e caiu fulminado em cima do altar que celebrava a missa!
A estupefação popular foi enorme!Os fieis viam naquilo um aviso divino. O velho pesadelo da invasão à Casa de Deus veio à tona. Dr. Geraldo Menezes Barbosa retrata com maestria a sensação dos presentes:
 “Ficara, porém, seu sermão comentado entre os romeiros e sua morte, no altar como uma ação divina, um martirológio, a exigir dos fiéis uma represália corajosa contra a vinda dos comunistas. (...)” (10).
A morte do vigário, dois dias após a síncope sofrida na igreja, em circunstância tão inusitada foi o acicate para a junção do grupo dos “Cerca-Igrejas” na função de protetores da Morada da Mãe de Deus. Em pouco tempo foram-se aglutinando a frente da matriz homens armados de foices, enxadas e bastões sob o comando de um certo Venâncio “(...) chegando a se reunir, na aludida igreja, em número mais de 200 (11)”.
          Como um exército perfeitamente treinado e organizado, os Caceteiros de logo traçaram a estratégia a ser tomada. Um grupo seleto circundaria a imagem da Santa como um rosário dentro da igreja e os demais permaneceriam nas portas impedindo a passagem de quem quer que fosse. Ninguém saía ou entrava sem a permissão dos chefes.
          É evidente que tal aglomeração nas dependências da matriz tornara-se inoportuna para a população local que reclamava do aumento de furto e desordem na cidade. Acusava-se, até, do uso de maconha por parte de alguns invasores.
          Em que pese os constantes rogos das autoridades locais, os Caceteiros se mantinha irresolutos na sua decisão. Intitulavam-se de “(...) Leões e leões não recuam diante do perigo!” (12).
          Certa ocasião, o próprio Padre Juvenal Colares Maia, substituto do falecido vigário, tentou dialogar com os invasores e foi agredido violentamente. De outra feita, Preto Júlio, Guarda Civil conhecidíssimo na cidade, foi confabular com os Caceteiros e saiu gravemente ferido.
          Diante da situação insustentável, o prefeito José Geraldo da Cruz se viu obrigado a solicitar a intervenção policial. Dirigiu um telegrama relatando os fatos ao Secretário de Polícia e este autorizou ao comandante do batalhão a tomar as providências cabíveis.
          Seguindo ordens, o capitão da polícia Osimo de Alencar Lima, juntamente com o colega também Capitão Firmino de Araújo, reuniu uma comissão de civis e tentaram convencer os ocupantes da inutilidade de suas ações. Em dado momento, porém, um fanático investiu com uma foice sobre o civil Antonio Braz que não morreu graça a interferência do capitão Firmino. O diálogo se tornara inútil. De Fortaleza emanou um telegrama do Secretário de Polícia exigindo a expulsão dos invasores. Que fosse evacuada a igreja ocupada por mais de dois meses. Uma volante policial comandada pelo sargento Mena Barreto, outro sargento, um cabo e doze soldados, armados de fuzis, dirigiram-se ao templo com o intuito de promover sua desocupação.
Mesmo diante da presença dos militares, não demonstrando medo, os ocupantes vociferavam:
-“Viva a meu Padim Padre Cícero e a Virgem Santa Maria Mãe de Deus!”.
O clima emocional foi ficando paulatinamente mais quente. De um lado se encontrava a volante policial pronta para cumprir a ordem recebida; do outro lado os Caceteiros em pé de guerra.
O sargento Mena Barreto vira para seus comandados e grita:
-“Acelerado!”
Ao penetrar na igreja o corpo policial se viu acuado diante da ameaça dos “Cerca-Igrejas” que partiram decididos em cima dos soldados. Diante do perigo iminente, o sargento ordenou que fosse disparada uma saraivada de balas para o alto com o intuito de amedrontar os agressores.
Os fanáticos ao notarem que ninguém havia sido atingido, viram nisso uma intervenção de Deus e aos gritos de “Vivas a meu Padim!” investiram ferozmente contra os policiais. Sem alternativa, o sargento Mena Barreto bradou:
-“Fogo! Fogo!”
Os corpos dos insurgentes começaram a cair e o sangue a salpicar pelas paredes da capela. Gritos de desesperos foram ouvidos por todo lado e numa correria desordenada abandonando a igreja.
Horas depois, já alta noite, um caminhão recolhia os mortos e os levava para serem enterrados numa cova coletiva no cemitério local. O número de mortos nunca foi oficialmente informado. Porém, há registro de seis ou sete óbitos e vários feridos (12).
Os Caceteiros se manifestaram novamente no massacre ao Capitão José Bezerra em 1936 e a ojeriza do povo pelo clero oficial culminou com a morte do Monsenhor Joviniano Barreto em 1950, na cidade de Juazeiro do Norte, assassinado brutalmente por um louco alcunhado Pé de Galo.

NOTAS
01 – José de Figueiredo Filho – História do Cariri volume 3, capítulo 11, pagina 21 – Faculdade de Filosofia do Crato – Crato-Ce 1966 ao  relatar sobre a Guerra de Pinto Madeira diz:
“(...) grosso contingente de sertanejos, os quais, a falta de arma de            fogo, em grande parte se muniam de cacetes em cujo manejo eram             afamadamente amestrados”. (...)

02-       Jornal “O Araripe”, apud José Figueiredo Filho & Irineu Pinheiro –           Cidade do Crato pág.33, MEC Rio de Janeiro.

03-       Gustavo /barroso – Terra do sol – página 121- 6º Edição - Imprensa          Universitária do Ceará – 1962

04-       Irineu Pinheiro e José Figueiredo Filho – Cidade do Crato página 27 -      Ministério da Educação e Cultura1955:
“Não fez subir a Revolução Francesa ao altar de Notre Dame uma            beleza de teatro, que simboliza a razão?”

05-       Irineu Pinheiro, o.c.pg.26

06 – Rui Faço – Cangaceiros e Fanáticos gênese e lutas- 6º Edição pg.40,             Ed.UFC civilização Brasileira-Rio de Janeiro 1980, apud Eusébio          de Sousa, História militar do Ceará, Fortaleza 1950, pg. 293.

07 – Amália Xavier de Oliveira, Dados que Marcam a Vida do Padre Cícero Romão pg.09, Juazeiro do Norte 1983 (Brochura).

08 -  Amália Xavier de Oliveira, o Padre Cícero que eu conheci pg.266- Rio    de Janeiro 1969. Obs. Não consta no livro o nome da editora.

09 – M. Diniz – Mistérios do Joazeiro – Historia completa do Padre Cícero          Romão Batista do Joazeiro do Ceará - pg. 141- Tipografia do “O     Joazeiro”-        Joazeiro –Ceará

10-       Geraldo Menezes Barbosa, História do Padre Cícero ao alcance de todos pg.127- Edições ICVC- Juazeiro do Norte-Ce 1992

11 –     M.Diniz, o.c.pg.142
12-       M.Diniz, o.c.pg142

12 – Sobre a quantidade de mortos verificados na chacina não há uma certeza absoluta. Geraldo Menezes Barbosa não se aventura a        informar a quantidade posto que houve mortos na igreja e outros   baleados foram falecer brejo adentro. Já Padre Néri Feitosa in    “Monsenhor Joviniano   Barreto” pg.17 – Poliantéia –Cadernos do  Cariri Série Biografia nº. 5   1966    Crato-Ce é categórico ao  afirmar que pereceram sete pessoas”“.


BIBLIOGRAFIA
Barbosa, Geraldo Menezes. A História do Padre Cícero ao alcance de todos. Juazeiro do Norte-Ce. ICVC 1992.
Barroso, Gustavo. Terra de sol. Fortaleza-Ce. 1962- Imprensa Oficial do Ceará.
Dinis, M. Mistérios do joazeiro. Juazeiro –ceará 1935 – Tipografia do “O Joazeiro”
Facó, Rui. Cangaceiros e fanáticos. Rio de Janeiro 1980.Editora Civilização Brasileira S/A
Filho, J.de Figueiredo. História do cariri vol3 cap. 10° ao 14°. Crato-Ce 1966.      Faculdade de Filosofia do Crato.
- Filho, José de Figueiredo & Pinheiro, Irineu. Cidade do Crato. Crato-    Ce 1955  Ministério de Educação e Cultura.
Feitosa, Padre Néri. Monsenhor Joviniano Barreto. Crato-Ce. 1966
Oliveira, Amália Xavier. Dados que marcam a vida do padre Cícero Romão Batista. Juazeiro do Norte-ce 1983
Oliveira, Amália Xavier. O padre Cícero que eu conheci. Rio de Janeiro 1969.

Eis uma das torres que o Pe. Esmeraldo pretendia demolir
E  foi impedido pelos  Caceteiros