terça-feira, 20 de junho de 2017

história do canhão da guerra de 14 - Daniel Walker

O canhão mostrado na foto é uma relíquia histórica, pois representa o símbolo da resistência de Juazeiro às investidas das tropas rabelistas na Sedição de 1914, na qual Juazeiro saiu vitorioso. A história desse canhão é bem interessante e pitoresca. 

Quando as forças militares estaduais do governador Franco Rabelo estavam se mostrando ineficientes para conter a rebeldia das forças de Juazeiro, um empresário fortalezense, Sr. Emílio Sá, dono de uma padaria no centro comercial da capital cearense, teve a ideia de fazer um canhão que seria, segundo ele,  "a arma fatal para dizimar os rebeldes". 

O canhão foi fundido em bronze proveniente de um grande volume de moedas doadas pela população de Fortaleza, numa campanha feita à pressa, mas que deu bom resultado, porquanto em pouco tempo todo o bronze necessário para fundição do canhão de um metro estava à disposição do idealizador.  

A chegada desse canhão, esperava-se, daria maior ânimo às forças rabelistas sediadas na cidade de Crato, cuja esperança de vitória havia desaparecido. Embora a fundição do canhão tenha sido feita rapidamente, seu transporte para o Crato foi uma empreitada longa, cansativa e, quando em combate, a ação foi desastrosa. 

Como a linha de ferro só ia de Fortaleza a Iguatu, o transporte do pesado artefato até o Crato foi feito numa carroça puxada por uma parelha de bois, trafegando numa estrada enlameada devido às fortes chuvas que banharam na época a região Caririense. Não foi nada fácil!

Com a chegada da arma fatal, o falastrão major Ladislau, comandante das forças rabelistas, num arroubo de arrogância mandou soltar um boletim espalhafatoso para despertar nervosismo nas tropas de Juazeiro, o qual entre outras coisas desaforadas dizia o seguinte: “O Juazeiro vai ser bombardeado a dinamite por poderosos canhões vindos de Fortaleza com extraordinários reforços de soldados e de munição. Rendei-vos, ainda é tempo”. 

No tocante aos canhões mentiu, pois só era um exemplar; porém disse a verdade quanto ao reforço de munição (vieram 100 mil cartuchos) e ao número de soldados (vieram mais 150 homens da Guarda Cívica). 

Irado com o desaforo do major Ladislau, o comandante Floro decidiu revidar e emitiu também um boletim, no qual vociferou: “Lemos o imundo boletim que vocês, acovardados, fizeram circular. Fiquem sabendo que aqui ninguém tem medo dos seus canhões, nem das suas 100 mil balas, nem das suas dinamites. Deixem de ser pulhas e venham, se têm coragem, para correrem pela segunda vez e última vez. Porque agora não daremos mais tréguas, podem ficar certos. Venham, venham, venham!”.  
Mais tarde ficou comprovado o quanto Floro tinha razão ao fazer tais afirmações. Mas o major Ladislau, fanfarrão como era,  não perdeu a oportunidade de enraivecer Floro mais uma vez e mandou outro boletim desaforado nos seguintes termos: “Floro, seu bandido. Nestes dias te mostrarei como se zomba de um governo. Tua cabeça irá para Fortaleza servir de exemplo9 aos outros miseráveis teus companheiros. Floro, ladrão, Não terás a honra de morrer a tiros, mas sim sangrando no coração, miserável”. 

Depois o major Ladislau viu a besteira que fez, pois nada do que prometeu se realizou. 
A ordem que veio de Fortaleza era clara: para que a estreia do canhão tivesse amplas condições de lograr êxito era preciso antes matar Juazeiro de fome, através de um bloqueio nas estradas, evitando assim que os gêneros alimentícios chegassem à cidade. E o bloqueio de fato foi feito, porém Dr. Floro, estrategista como era, encontrou uma solução eficaz, mesmo sem contar com a anuência do Padre Cícero, seu cúmplice no comando da sedição. 

A solução empregada foi efetuar saques aos depósitos de alimentos dos sítios da vizinhança onde os soldados rabelistas não estavam vigiando. Padre Cícero não concordou com tal medida porque achava que isso se constituía crime de roubo. Diante da advertência do Padre Cícero, Floro retrucou com veemência: “Deixe de escrúpulos e me dê carta branca para resolver essa parada, se não quiser ser degolado pelos soldados da polícia!”.  

E Padre Cícero não teve outra alternativa, senão calar-se e deixar tudo a critério de Floro. 
Como a ideia do boicote das estradas não surtiu o efeito esperado, o major Ladislau foi obrigado  a antecipar a estreia do tão esperado canhão. Mas logo no tiro de ensaio, realizado ao ar livre para toda a população cratense assistir, o canhão de Emílio Sá foi uma tremenda decepção, pois o tiro literalmente saiu pela culatra. O estrondo foi realmente grande e destruiu a carroça de madeira que lhe servia de base, sendo preciso improvisar um novo estrado, agora de ferro e feito à pressa.

O primeiro tiro do canhão foi um sucesso, mas apenas em estrondo e fumaça, e isso certamente desanimou o comandante da tropa rabelista. Mas como não havia tempo a perder, o certo mesmo era retomar os ataques a Juazeiro, na esperança de que o canhão, cujo fracasso inicial não era do conhecimento das tropas rebeldes, cumprisse a missão para a qual foi construído. 

Assim, no dia 21 de janeiro de 1914, mesmo contrariando a ordem do governo de prolongar o boicote das estradas,  o desastrado major Ladislau ordenou um novo ataque, agora com mais munição e  o reforço da Guarda Cívica, vindo de Fortaleza. 

Essa Guarda Cívica não era propriamente uma tropa militar com treinamento de caserna. Era, na verdade, um grupo de civis voluntários convidados em cima da hora e portanto sem nenhum preparo para a luta armada. Ela teve de ser acionada porque praticamente todo o contingente militar do governo já estava em campo. Os poucos militares que não foram deslocados para o Crato ficaram para guarnecer a capital. 

Em combate, o canhão foi mesmo um tremendo fracasso! Seu tiro era de fato estrondoso, entretanto tinha pouco alcance, de tal forma que o projétil lançado nunca chegava ao alvo esperado. Serviu mesmo foi de gozação para as tropas de Juazeiro. Toda vez que se ouvia o tiro do canhão, os rebeldes de Juazeiro gritavam em coro: “Xô, maldita!”. E a bola de chumbo quente passava longe do alvo. 

Sem o canhão render o esperado, o major Ladislau ordenou o recuo das suas tropas para Barbalha, em vez de Crato, e em lá chegando, deu a ordem jamais ouvida  num campo de combate: “Camaradas, é triste confessar; mas o Padre Cícero ganhou a guerra. Deus é grande, o Padre Cícero é maior. Mas o mato é maior ainda do que os dois juntos. Cada um cuide de si e ganhe o matagal”. 

Não foi preciso muito tempo para a tropa seguir o conselho. Ali mesmo, muitos soldados amedrontados debandaram; outros preferiram tirar a farda e fugir como se fossem civis, pois o mais importante naquele momento era não estar no local quando as tropas rebeldes chegassem a Barbalha. 

O canhão foi abandonado nos arredores da cidade e depois foi trazido pelas tropas vitoriosas até ao centro  e exibido como troféu de guerra, sob caloroso aplauso da população. 

O canhão (visto na foto abaixo) hoje está exposto no Memorial Padre Cícero, sendo uma peça bastante apreciada pelos visitantes. 


sábado, 6 de maio de 2017

Quem faz parte da matriz de formação histórica de Juazeiro - Daniel Walker

Muitas pessoas aqui em Juazeiro se incomodam quando associam à história da cidade jagunços, cangaceiros, beatos, romeiros, Maria de Araújo e (pasmem!) até mesmo o Padre Cícero. 
Elas agem assim por absoluta falta de conhecimento do processo de formação histórica da cidade. Pois, de fato, na matriz da formação histórica de Juazeiro todos esses elementos lá estão, como personagens inapagáveis. 
Com este texto apresento algumas argumentações básicas para um melhor entendimento dessa questão. 
Jagunços e cangaceiros. Os jagunços e cangaceiros prestaram relevante serviço a nossa comunidade, quando em 1914, sob a liderança de Dr. Floro Bartholomeu da Costa, eles com sua bravura ajudaram a derrotar as tropas do governador  Franco Rabelo, apeando-o do poder. Se Juazeiro dependesse apenas dos seus pacatos moradores e dos dóceis romeiros, teria sucumbido face ao tremendo poderio das forças rabelistas que cumpriam ordens do rancoroso governador no sentido de destruir a cidade e dizimar a população. 
Padre Cícero por sua bondade e carisma era uma espécie de imã para atrair a Juazeiro jagunços e cangaceiros. Por isso, muitos historiadores inescrupulosos escreveram em seus livros, de forma leviana, que ele era coiteiro de cangaceiros. Na verdade, Padre Cícero não acoitava e sim, acolhia.  E esses escritores sabiam muito bem distinguir a diferença entre os dois termos; mas na intenção de denegrir a imagem do fundador de Juazeiro teimavam em carimbar na sua (dele) biografia o termo coiteiro, no seu sentido mais pejorativo. 
Padre Cícero dizia que esta cidade era um refúgio dos náufragos da vida; por isso, quem a procurava como última estação da esperança recebia dele o melhor acolhimento. Assim aconteceu, por exemplo, com os cangaceiros Sinhô Pereira e Luiz Padre, os quais se regeneram graças à ação do Patriarca de Juazeiro, e terminaram a vida como cidadãos pacatos. Isso não é ficção, é fato real, comprovado.
Então, não há motivo para ninguém se incomodar com a presença de jagunços e cangaceiros  na história desta cidade. Eles estão presentes na história de muitos lugares. 

Romeiros. O encantamento que esta cidade proporciona só ocorre por causa dos romeiros e suas romarias. Sem eles Juazeiro seria um lugar comum como tantos que existem no mundo, ou talvez, nem sequer existisse no mapa do Brasil. 
Não há dúvida, a cidade é romeira, autenticamente romeira, em que pese isso incomodar alguns juazeirenses nativos recalcitrantes, tanto de ontem como de hoje. 
Na verdade, atualmente em Juazeiro há poucas famílias sem DNA romeiro no sangue. Assim, poucos filhos da terra poderão se apresentar como sendo de uma cepa genuinamente juazeirense. O restante ou é romeiro; ou filho de romeiro; ou neto de romeiro; e isto não deve ser motivo de insatisfação para ninguém, pois os romeiros independentemente de qualquer julgamento ou análise são protagonistas da história e agentes do progresso e do desenvolvimento desta grande cidade. 
Por isso, a presença deles aqui precisa ser respeitada e valorizada, porquanto representa uma contribuição inestimável na formação histórica e cultural juazeirense.
Os romeiros vieram a Juazeiro atraídos pelo Padre Cícero e para aqui trouxeram suas agruras e sonhos, mas também sua cultura, sua história de vida, sua culinária, seus saberes, seus fazeres,  sua crença religiosa e por conta da procedência de cada um, eles terminaram  transformando Juazeiro no grande mosaico de etnias nordestinas. Ao chegarem aqui, eles não apenas ocuparam e cultivaram um espaço geográfico delimitado por quilômetros quadrados, mas construíram uma espacialidade da qual floresceu uma grande Nação Romeira, sem igual em parte alguma do mundo. 
Portanto, é preciso que os representantes da população nativa se conscientizem de que no sangue que faz pulsar o coração de Juazeiro do Norte existe uma genética romeira, e isto faz, sim, muita diferença. Sem romeiros e sem romarias, Juazeiro deixa de ser a Terra do Padre Cícero. 

Beatos e beatas. Os beatos e beatas foram grandes auxiliares da ação pastoral do Padre Cícero. São eles que dão o tom de cidade mística a Juazeiro. E isso não deve ser motivo de insatisfação para ninguém daqui. Aliás, ser uma cidade mística é antes de tudo um privilégio, pois existem poucos lugares assim no mundo. E misticismo não é fanatismo. Cidade mística é cidade santa. E isto desperta interesse turístico. Até na Europa!
A beata Maria de Araújo foi “uma  das maravilhas da graça de Deus”, na opinião abalizada do seu mentor espiritual, Padre Cícero. Independentemente de ser ou não verdadeiro o milagre por ela protagonizado, sua vida é um atestado eloquente de humildade e resignação. É a mulher mais importante da história de Juazeiro. Gostar ou não gostar dela, é atitude de foro íntimo de cada um dos habitantes de Juazeiro, mas sua consagração já está registrada na história da cidade. Juazeiro é o resultado imediato do milagre da hóstia, seja ele verdadeiro ou não. Quem conhece a vida da beata Maria de Araújo vai ver que ela não corresponde à figura projetada nos livros pelos seus difamadores. Ninguém está obrigado a considerá-la santa, pois a Igreja ainda não a considera como tal: mas uma santa mulher sem dúvida ela foi. 

Padre Cícero. Ele nunca foi unanimidade nem poderia ser, pois isso até hoje ninguém conseguiu na face da Terra. Nem Deus, cuja existência é negada pelos ateus. Mas pra Juazeiro ele é tudo, mesmo que isso incomode algumas pessoas, especialmente motivadas por crença religiosa. Mas deixando de lado este aspecto singular, é dever de todo juazeirense ou pessoa de fora aqui residente, por uma questão de coerência e gratidão, respeitar o cidadão Cícero Romão Batista, o fundador da cidade de Juazeiro do Norte. Ele foi, e continua sendo mesmo depois de morto,  o maior benfeitor desta cidade. Sem sua presença é pouco provável que o povoado fundado pelo Padre Pedro Ribeiro  de Carvalho pudesse um dia se desmembrar do jugo do município de Crato. É fácil perceber o quanto isso é verdade, pois basta verificar o que aconteceu de 1827, quando nasce o povoado, até 1871 quando chega o Padre Cícero. Nada! O lugar era um mísero aglomerado humano sem a menor perspectiva de crescimento. A partir da chegada do Padre Cícero, tudo mudou. 
Enfim, quem não gosta de Juazeiro do jeito que é, está  morando no lugar errado. Porque quer. 



domingo, 22 de janeiro de 2017

Devotos da Mãe das Dores celebram Centenário da primeira paróquia de Juazeiro do Norte

Programação festiva contou com procissão pelas ruas da cidade e encerramento com Missa de Ação de Graças pelos 100 anos da primeira paróquia da Terra do Padre Cícero. 

Fonte: Basílica Menor de Nossa Senhora das Dores/ Fotos: Rozélia Costa e Patrícia Silva
O município de Juazeiro do Norte viveu um momento histórico na noite de 6ª feira (dia 20). O Centenário da Paróquia de Nossa Senhora das Dores reuniu milhares de pessoas de vários estados do Nordeste. Bispos, sacerdotes, diáconos, seminaristas, agentes de pastorais, autoridades, paroquianos e romeiros participaram da programação festiva, a qual contou com procissão pelas ruas da cidade e encerramento com Missa de Ação de Graças pelos 100 anos da primeira paróquia da Terra do Padre Cícero.

O sol se despedia quando os devotos de Nossa Senhora das Dores e do Padre Cícero se reuniram no largo da Capela do Socorro para o início da procissão. No cortejo, o carro-andor com a imagem primitiva de Nossa Senhora das Dores e do Padre Cícero Romão foi conduzido pelos fiéis em clima de oração, alegria e devoção. As demais paróquias da cidade também participaram do momento com as imagens de seus respectivos padroeiros, representando assim a unidade entre a devoção à padroeira de Juazeiro e as demais devoções presentes na história do município.

A procissão foi acolhida, em clima de festa, na Praça dos Romeiros, localizada na Paróquia de Nossa Senhora das Dores – Basílica Santuário, onde o bispo da Diocese de Crato, dom Gilberto Pastana de Oliveira, presidiu a Santa Missa em Ação de Graças pelo Centenário. A celebração foi concelebrada pelo bispo emérito de Crato, Dom Fernando Panico; pelo bispo da Diocese de Sobral, Dom José Luiz Gomes de Vasconcelos; pelo bispo auxiliar da Arquidiocese de Fortaleza, dom Rosalvo Cordeiro e pelo bispo emérito de Palmares (PE) e atual Administrador Apostólico da Arquidiocese da Paraíba, dom Genival Saraiva de França.

Passeio pela história 



 Dom Gilberto Pastana coroa a imagem primitiva de Nossa Senhora das Dores, adquirida peloi Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro e que pontificou na capelinha construída em 1827 até a chegada da nova imagem adquirida pelo Padre Cícero em 1875.

Durante sua homilia, dom Gilberto Pastana de Oliveira fez memória da história da Paróquia de Nossa Senhora das Dores ao longo destes 100 anos, enfatizando a importância da mesma para a cidade de Juazeiro e para a Diocese de Crato. As palavras do bispo diocesano fizeram um verdadeiro passeio na história de Juazeiro. A conferir:


“O trabalho de estudar e reescrever a história da Paróquia de Nossa Senhora das Dores, de Juazeiro do Norte, nos traz a constatação de que esta criação foi uma conquista difícil para o Povo de Deus residente na Terra do Padre Cícero. Por conta do episódio que se convencionou chamar de “Milagre da Hóstia”, ocorrido em 1889, o qual não foi aprovado pelas autoridades da Igreja, levou a Santa Sé a enviar de Roma, para o Bispo de Fortaleza, uma recomendação, com data de 17 de fevereiro de 1898, onde constava:

“O Bispo de Fortaleza deveria providenciar o quanto antes um vigário para cuidar da cura das almas de Juazeiro. Deveria ser um sacerdote prudente, com residência na sede da freguesia e, portanto, em Juazeiro”.

No entanto, por motivos diversos, essa determinação do Vaticano só foi cumprida em janeiro de 1917, quando já havia sido criada e instalada a Diocese de Crato. Deve-se, portanto, ao primeiro bispo de Crato, Dom Quintino, o atendimento desse pedido, o anseio maior da população de Juazeiro do Norte, que era de possuir a sua sonhada paróquia.

Nunca é demais recordar, o que consta no livro “O Padre Cícero que eu conheci”, da educadora e historiadora Amália Xavier de Oliveira, de saudosa memória: “De 1889 até 1917, a população católica de Juazeiro do Norte ficou sem assistência religiosa. E mesmo assim perseverou na fé! De início, para a confissão, assistência à missa e outras solenidades católicas, grupos de pessoas se dirigiam, a pé, até a vizinha cidade de Crato. Ao assumir a recém-criada Diocese de Crato, em 1º de janeiro de 1916, Dom Quintino determinou ao Vigário de Crato, monsenhor Pedro Esmeraldo, que dedicasse o terceiro domingo de cada mês, vindo até Juazeiro para confessar, celebrar, batizar e administrar outros sacramentos.

Em 22 de dezembro aquele ano, Dom Quintino fez sua primeira visita pastoral ao município de Juazeiro. A cidade em peso foi às ruas aguardar a chegada do novo bispo, que vinha de Missão Velha, a cavalo. Antes de terminar a visita pastoral uma comissão de notáveis juazeirenses visitou Dom Quintino e pediu a criação da Paróquia de Juazeiro do Norte. Dom Quintino prometeu atender ao pedido. E cumpriu a promessa”.

O decreto de criação foi assinado há exatamente cem anos. E de lá para cá, a influência da Igreja Católica foi consolidada como a principal característica desta cidade.

Ao longo deste século, Juazeiro cresceu e ganhou mais 11 paróquias. E a centenária Paróquia de Nossa Senhora das Dores possui um histórico de evangelização, que se espalha hoje por todo o Nordeste brasileiro. Milhares de romeiros do semiárido nordestino – e até de outras regiões brasileiras – para aqui vêm em romarias. A devoção a Nossa Senhora das Dores, por conta disso, cresceu no espaço territorial que se convencionou chamar de “Nação Romeira”.

A comemoração do centenário de existência da Paróquia de Nossa Senhora das Dores possibilita o amadurecimento e fortalecimento dos fiéis, despertando um maior compromisso desse povo cristão no resgate e prática da nossa fé católica.

Hoje, com imensa gratidão ao Deus Uno e Trino, a Nossa Senhora das Dores, aos bispos e padres que prestaram serviços a esta paróquia e à cidade de Juazeiro do Norte, ao Povo de Deus que perseverou na fé apesar de tantas dificuldades, externamos o nosso júbilo pelos cem anos de caminhada e por fazermos parte desta história.

Celebramos, com imensa alegria, este tempo de renovação da nossa fé, de compromisso missionário evangelizador, da realidade de vermos o Padre Cícero reconciliado com a Igreja a quem ele sempre foi fiel.

Por tudo isso, renovamos – neste momento – ao Deus Altíssimo, Onipotente e Bom Senhor, o louvor, a glória e a honra para sempre. Amém”.


Altar da Missa do Centenário da Paróquia de Nossa Senhora das Dores


domingo, 15 de janeiro de 2017

A Matriz das Dores e seus vigários - Por Renato Casimiro

A história mais remota da vida religiosa de Juazeiro do Norte recorre cronologicamente ao instante marcante da pedra fundamental da primeira capelinha, em honra de Nossa Senhora das Dores, assentada no recuado 15 de setembro de 1827, encravada nas terras desse lado fértil do Cariri. Daí por diante, eclesiasticamente dependente da Freguesia de Nossa Senhora da Penha (Crato), e da Diocese de Olinda, sucederam-se alguns capelães, até que, já constituída uma nova Diocese, o primeiro Bispo do Ceará, D. Luiz, proclamou a provisão com a qual Cícero Romão Baptista, se tornaria em 11.04.1872 o seu sexto capelão. Amália Xavier, em seu relato sincero, registra que aquele foi um “apostolado fecundíssimo, com suas práticas religiosas e, sobretudo, com seu exemplo, conseguiu regenerar os habitantes, descendentes dos escravos do Pe. Pedro (Ribeiro), que após a sua morte se haviam entregues a toda a sorte de degenerescência, esquecidos dos ensinamentos recebidos.” O zelo exemplar de Pe. Cícero estendeu as bases para que aquela pequena capela, expandida em duas ocasiões, reformada em outras tantas, se constituísse no núcleo fundamental sobre o qual cresceria suas atenções sobre o fenômeno religioso e sobre todas as injunções que fizeram daqui o epicentro da religiosidade popular emanada da grande nação romeira e nordestina. Muito depois, 45 anos após, no dia 20 de janeiro de 1917 a Diocese de Crato criou a primeira Freguesia da Vila do Joaseiro, designando o seu primeiro vigário o Pe. Pedro Esmeraldo da Silva Gonçalves. Essa ficou conhecida como Paróquia-Matriz, ou Igreja-Matriz, uma longa primazia por outros longos 51 anos, até que fosse criada a segunda paróquia da cidade. Agora, depois de uma história memorável, através da qual abrigou todos os filhos desta heroica cidade, em congraçamento com a gente romeira dos sertões e elevada às dignidades de Santuário e de Basílica Menor, ela se prepara para celebrar o seu primeiro centenário, plena das graças da Igreja que está em Cristo e em cada um de nós. A celebração deste primeiro século de evangelização e de um intenso pastoreio se fará por uma ampla programação, para a qual estamos todos convidados a rememorar e a festejar tudo aquilo que se emanou da velha capelinha e que invadiu lares e oficinas, entre oração e trabalho, para ser entre nós o privilégio, na proximidade do Reino de Deus. Em toda a sua existência, a Paróquia-Matriz foi regida por dez vigários, na atualidade denominados de Párocos, enquanto vigários paroquiais são os coadjutores ou auxiliares. Revisei recentemente a relação desses vigários/párocos, para indicar abaixo os seus principais dados. Observe que dois deles (Monsenhores Pedro Esmeraldo da Silva Gonçalves e José Alves de Lima) foram vigários em dois períodos. 
PRIMEIRO VIGÁRIO: Pe. Pedro Esmeraldo da Silva Gonçalves; Nascimento: 29.01.1879 (Crato, CE); Ordenação: 30.11.1898 (Fortaleza, CE); Vicariato (I): De 21.01.1917 a 16.09.1921; Falecimento: 01.10.1934 (Juazeiro do Norte, CE); 
SEGUNDO VIGÁRIO: Pe. Dr. Manoel Correia de Macedo; Nascimento: 16.06.1894 (Barbalha, CE); Ordenação: 03.04.1920 (Roma, Itália); Vicariato: De 26.01.1923 a 06.01.1925; Falecimento: 06.07.1959 (Campinas, SP);
TERCEIRO VIGÁRIO: Pe. José Alves de Lima; Nascimento: 05.05.1889 (Crato, CE); Ordenação: 30.11.1912 (Fortaleza, CE); Vicariato (I): De 13.05.1927 a 06.06.1933; Falecimento: 30.08.1969 (Juazeiro do Norte, CE);
QUARTO VIGÁRIO: Mons. Pedro Esmeraldo da Silva Gonçalves; Nascimento: 29.01.1879 (Crato, CE); Ordenação: 30.11.1898 (Fortaleza, CE); Vicariato (II): De 17.04.1933 a 01.10.1934; Falecimento: 01.10.1934 (Juazeiro do Norte, CE);
QUINTO VIGÁRIO: Mons. Joviniano da Costa Barreto; Nascimento: 05.05.1889 (Tauá, CE); Ordenação: 21.12.1911 (Fortaleza, CE); Vicariato: De 26.03.1926 a 06.01.1950; Falecimento: 06.01.1950 (Juazeiro do Norte, CE);
SEXTO VIGÁRIO: Mons. José Alves de Lima; Nascimento: 05.05.1889 (Crato, CE); Ordenação: 30.11.1912 (Fortaleza, CE); Vicariato (II): De 07.01.1950 a 28.02.1967; Falecimento: 30.08.1969 (Juazeiro do Norte, CE);
SÉTIMO VIGÁRIO: Mons. Francisco Murilo de Sá Barreto; Nascimento: 30.10.1930 (Barbalha, CE); Ordenação: 15.12.1957 (Barbalha, CE); Vigário Cooperador: De 06.02.1958 a 28.02.1967; Vigário: De 28.02.1967 a 04.12.2005; Falecimento: 04.12.2005 (Fortaleza, CE);
OITAVO VIGÁRIO: Pe. Paulo Lemos Pereira; Nascimento: 25.09.1970 (Juazeiro do Norte, CE); Ordenação: 19.10.1999 (Crato, CE); Administrador Paroquial: De 06.02.2006 a 07.01.2011; 
NONO VIGÁRIO: Pe. Joaquim Cláudio de Freitas; Nascimento: 15.07.???? (Santana do Cariri, CE); Ordenação: 08.06.2007 (Crato, CE); Vigário Paroquial: De 01.01.2008 a 01.01.2011; Pároco: De 08.01.2011 a 30.07.2015; 
DÉCIMO VIGÁRIO: Pe. Cícero José da Silva; Nascimento: 15.01.1975 (Brejo Santo, CE); Ordenação: 04.08.2012 (Crato, CE); Vigário Paroquial: De 01.01.2011 a 31.07.2015; Pároco: desde 31.07.2015.