PADRE CÍCERO VISTO PELOS SÁBIOS - I
Suenon Bastos Mota
Mantenho valiosos apontamentos oriundos de estudos e pesquisas procedidos pelo saudoso Desembargador Valdetário Mota Pinheiro Mota a respeito de conceitos emitidos por sábios, estudiosos e escritores sobre o Padre Cícero. Percebe-se que o Desembargador Valdetário, então Juiz de Direito da comarca de Juazeiro do Norte, no período de 1958 a 1962, pretendia ampliar essa pesquisa, para publicar trabalho mais completo a respeito do Patriarca do Nordeste.
Os apontamentos deixados pelo conceituado magistrado merecem ser dados ao conhecimento do público. É o que se passa a fazer:
O escritor Jáder de Carvalho, identificando Padre Cícero como pregador de ideias religiosas que só recomendavam o bem, narra em Aldeota – pág. 49, “que Vicente e Chicó, personagens do romance, ouviram do Padre Cícero, na benção vespertina, falar contra o furto, contra a mentira, lembrando o levita que sua missão na terra era espalhar o bem e plantar a paz entre os homens”.
Moesia Rolim, em artigo publicado no Jornal o Povo, edição de 13.11.34, referindo-se ao grande apóstolo de Juazeiro, diz que o mesmo “pregou e ensinou o evangelho da ação benfazeja e da bondade pregada como uma virtude cristã, concluindo que a palavra do Padre era ungida de doçura e repassada de bondade, deixando cair parábolas de redenção”.
Segundo o Professor Antônio Martins Filho, o Padre Cícero humilde, virtuoso, abnegado e bom, preenchia todas as suas horas com orações, com pregações ou com o trato de outros misteres que se relacionassem com a salvação de outros fiais ( in O Ceará, 2ª Edição, pág.285).
Jáder de Carvalho, prefaciando o livro de Otacílio Anselmo, O Padre Cícero: Mito e Realidade, disse que “o Padre era amigo dos paroquianos e se desvelava em cuidados e conselhos, seguindo passo a passo as ovelhas do repanho. Erige-se, aos poucos, a fama de bom, de caridoso, de conselheiro é pastor e pai.”(Jornal O Povo, edição de 19.02.66).
O escritor e historiador Abelardo Montenegro, em História do Fanatismo Religioso do Ceará, pág. 50, proclama que Padre Cícero e José Marrocos levaram vida ilibada, tinham espírito do despreendimento e praticavam atos de amor fraternal da mais pura caridade cristã.
Padre Cícero, missionário do bem, no conceito de Padre Antônio Vieira, o escritor cearense, “foi sacerdade como Cristo com corpo de homem e alma de santo, levita humilde, obediente e puro, crucificado no lenho da injustiça pela incompreensão e inveja de seus próprios irmãos de ofício”.
PADRE CÍCERO VISTO PELOS SÁBIOS - II
Suenon Bastos Mota
Retorno aos apontamentos e pesquisas deixados pelo Desembargado Valdtário Pinheiro Mota, reveladores de testemunhos registrados por renomados estudiosos sobre Padre Cícero, o inesquecível sacerdote de Juazeiro, que é sempre definido como possuidor de virtudes excepcionais.
De uma crônica escrita por Rachel de Queiroz, no ano de 1944, tem destaque a narrativa seguinte: “Na hora da benção à multidão o Padre Cícero aconselhava, quem matou, não mate mais; quem roubou não roube mais, quem tomou mulher alheia, entregue a mulher alheia e faça penitência. Não briguem, não bebam, não façam desordem; que a luz de Nosso Senhor não gosta de assassinos e nem de desordeiros” (do Livro- A Donzela de Moura Torta, pág. 37).
Em trabalho publicado na Revista Itaytera (Crato), Vol. IV, Pág. 189, o eminente Paulo Elpídio de Menezes, identifica o Patriarca de Juazeiro e do Nordeste, na primeira fase de sua vida religiosa, como taciturno, sem vaidade, desprendido, recebendo esmolas em vez de dinheiro pelos sacramentos ministrados, com sua batina rota. Portador de qualidades tão encarecidas pelo povo, não foi difícil Padre Cícero se tornar merecedor do halo de santidade que ainda lhe abroquela a alma.
De um artigo de Dom José Delgado, Arcebispo de Fortaleza, depois de destacar as calúnias de que Padre Cícero foi vitima, faz destacar: “ A suspensão pela Igreja, como também a condenação, não significam um pronunciamento infalível, e sim uma medida disciplinar. No caso de Juazeiro, as penas se tornaram muito mais severas em consequência da revolução de 1914, em que foi exageradamente envolvida a responsabilidade do Padre Cícero. Nem mesmo essas penas representam Juízo inapelável sobre as suas virtudes. Faz-se necessário ter diante dos olhos o que realmente esteve sempre diante dos olhos do discutido sacerdote. Condenado e suspenso, ele se consolava recordando iguais provocações que tinham sofrido grandes santos, como Santa Joana D'Arc que, depois de horrivelmente injustiçada, foi reconhecida inocente e elevada às honras dos altares. Com medo de Roma os seus melhores amigos e colegas o abandonaram. Seu único arrimo foi o povo bom do sertão, mais ingênuo e capaz de ajudá-lo como cumpria. Apesar de tudo, nunca se desviou da fidelidade ao Evangelho. Guardou e fez guardar o patrimônio da doutrina cristã “(Jornal A Fortaleza, edição de 10.03.63).
Lourença Filho, afamado educador, achou valioso consignar no seu livro “ Juazeiro do Padre Cícero”, pág. 50, que em Juazeiro lhe venderam uma oração do Padre, cuja tônica era um apelo à paciência.
O próprio Desembargado Valdetário registrou que não há exagero em dizer que muita gente tem o Padre Cícero como um varão privilegiado e há quem suponha seja ele uma figura de Abraão. Ao patriarca bíblico disse o Senhor, como teria dito séculos depois, ao Padre Cícero, filho do Crato: “ Sai de tua terra e de tua parentela e vem para a terra que eu vou te mostra e eu farei sair de ti(de tua bênção, diríamos) um grande povo e te abençoarei e engrandecerei o teu nome e será bendito” (Gênesis, XII, 1 e 2).
PADRE CÍCERO VISTO PELOS SÁBIOS - III
Suenon Bastos Mota
Volto a dar publicidade aos estudos e anotações a respeito do Padre Cícero vistos pelos sábios, os quais foram anotados pelo eminente Desembargador Valdetário Pinheiro Mota, ex-Juiz de Direito da comarca de Juazeiro do Norte, a Meca do Cariri, onde continua sempre lembrado pela postura de retidão, humanidade e amante da Justiça como sempre foi.
Padre Cícero, amante da paz e da ordem procurou sempre orientar os fiés para manter obediência às autoridades civis e eclesiásticas. Tal como o bom pastor, descrito em alegoria no evangelho(S. João, II, I a 5), procurou sempre encaminhar os que lhe procuravam e ouviam ao mesmo rebanho, que é a Igreja.
O jornalista Lauro Reis, em 1934 inseriu no seu livro - “Padre Cícero” o seguinte comentário alusivo à emancipação da comuna juazeirense: “entrementes o Padre trabalhava junto aos chefes dos municípios sul-cearenses para que os movimentos armados, que sempre tinham por finalidade a deposição de um Prefeito, fossem relegados ao esquecimento pudesse a paz trazer o progresso e o sossego ao seio da família caririense”. Registrou, ainda, o sobredito jornalista, na mesma obra, pág. 44, que “o Patriarca, no ansejo da festa da autonomia, conseguiu dos chefes municipais da região um pacto de paz cujo resultado foi a cessação das desordens”.
O Padre Manoel Macêdo (falecido com o título de Monsenhor) que foi destemido no combate à união do Padre Cícero com Dr. Floro Bartolomeu, reconheceu no Patriarca a liberdade de opinião de apreciação, como prova do respeito aos direitos humanos. O dito Padre Manoel Macêdo, em Juazeiro em Foco,pág. 86, narra que Padre Cícero lembrava “que que ver e calar era o cárcere dos que não se conformavam em apoiar os caprichos dos mandões”.
José Ferreira de Menezes, velho e conceituado advogado do Cariri, que conviveu na intimidade do Padre Cícero, servindo-lhe como competente secretário, costumava repetir que aquele sacerdote aconselhava aos que revelavam tendência para delinquência, que não entrassem na senda do crime pela porta da vingança.
Da mesma forma o nonagenário José Bernardino Leite, antigo advogado do Estado e que residiu em Barbalha e em Juazeiro, prestou serviços profissionais ao Padre Cícero, em declarações consignadas no Jornal O Povo, edição de 05.09.64, testemunhou que: “ficou conhecendo de perto as suas virtudes e bondades de seu coração”.
O Dr. Fernandes Távora, estudando a personalidade do Padre Cícero, em trabalho publicado na imprensa local, expediu conceitos como estes: I – Não recebendo qualquer importância pelos serviços eclesiásticos vivia como verdadeiro apóstolo, das pequenas dádivas de gêneros alimentícios que os fiéis espontaneamente entregavam à caseira e suas mãos não tocavam em dinheiro; II – O Padre era homem de ótimas qualidades. Dava esmolas, protegia aos que lhe pediam amparo contra os poderosos, comovia-se ante a perseguição aos judeus e aconselhava a todos a ordem, a honra e o trabalho; III - as suas ordens aos romeiros eram terminantes, no sentido de respeitarem a propriedade e a honra das famílias; IV – Com sua autoridade moral evitou graves danos às populações meridionais do Estado.
No conceituar do estudioso e pesquisador Padre Neri Feitosa, “Padre Cícero era o enviado de Deus e representava os anseios do povo de Deus. Ele é que era aceito, amado, amparado”(Padre Cícero e a Opção dos Pobres, pág.44).
Ante o que realizou e em razão dos extraordinários dons do inesquecível Patriarca do Nordeste e de sua permanente fidelidade à doutrina cristã, permito-me recorrer ao Livro Sagrado, para repetir o que disse Nicodemos ao Rabi da Galiléia: “Meste, sabemos que foste enviado por Deus para ensinar, porque ninguém pode fazer estes milagres que tu fazes, se Deus não estiver com ele” (S. João, III,2).
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Obs.: Trabalhos publicados no Jornal Tribuna do Ceará, edições de 13.07.1997, 20.07.1997 e 27.07.1997, respectivamente. Suenon Bastos Mota é desembargador, foi Juiz de Direito em Juazeiro do Norte, filho do saudoso Desembargador Valdetário Pinheiro Mota.
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